A volta da inflação e da recessão está próxima

20 de maio de 2019

Assim como a Argentina, o Brasil pegou um caminho que sempre dá em desastre.  

 

 

 

Rodrigo Zeidan, em sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, escreve que a inflação e a recessão já estão virando a rua e vêm com vontade. “Lua de mel com o governo acabou; caminhamos para o abismo lenta, mas inexoravelmente”, afirma. Segundo ele, “estamos imitando os erros dos nossos hermanos argentinos, mas em escala muito maior”. 

Assim como Jair Bolsonaro, Maurício Macri assumiu o governo argentino apoiado por empresários e com mandato claro de fazer reformas econômicas. E, como aqui, o governo só faz fumaça, afirma. “Após o desastroso governo Kirchner, Macri assumiu em 2016 prometendo pobreza zero e um ajuste fiscal para conter a inflação”, destaca. 

E enfatiza que os primeiros meses foram de lua de mel com o mercado. “As promessas eram de aumentar impostos, reduzir gastos públicos, aumentar a taxa de juros e normalizar a situação do Indec e do Banco de La Nación, equivalentes ao IBGE e ao Banco do Brasil (o Indec estava mutilado, a ponto de não publicar várias estatísticas nacionais)”, escreve. 

E prossegue: “Mas Macri fraquejou e acabou não passando nenhuma grande reforma. Subsídios nos preços de energia e transporte foram retirados de forma atabalhoada (ainda são 2% do PIB). Diminuiu-se o controle sobre o câmbio. O déficit caiu aqui ou ali, mas não houve avanço em reformas substantivas. 

O governo argentino chegou a negociar pacote de ajuda com o FMI para limitar a saída de capitais e conter a inflação. Não deu certo. Em maio de 2018, quando finalmente uma medida dura foi tomada, a de subir a taxa de juros de 20% para mais de 40%, o dano já estava feito —o PIB caiu 2,5% em 2018, e a inflação está na casa dos 30%.

O governo Macri escolheu o gradualismo. Deu errado. Muito errado. A pobreza hoje atinge um terço dos argentinos, mais do que no governo anterior. Cada medida meia boca era seguida por mais desconfiança por parte de empresas e consumidores. Isso tornava maior a necessidade de medidas mais duras, mas cada dado econômico ruim limava a capacidade de articulação política do governo.

Esse mecanismo de retroalimentação também aconteceu no governo Dilma. Em janeiro de 2014, o mercado esperava crescimento para 2015 na casa de 2,5%. Em janeiro de 2015, essa expectativa já tinha caído para 0,5%. Em junho, já se previa recessão de 1,8%. A economia acabou desabando 3,7%. 

Infelizmente, vai acontecer o mesmo agora. Aqui ainda não temos a inflação, mas ela vai acabar voltando. Já vivemos a deterioração das expectativas. Quando o atual governo estava para ganhar a eleição, havia previsões de que a economia ia crescer 3,5%. Cada tuíte estapafúrdio do presidente, e sinal de falta de articulação política, foi limando a confiança de todos.

Hoje, já se prevê crescimento menor que 1%. A incompetência do governo já destruiu 2,5% do PIB. E não vai parar por aí.

Não vai ter boa reforma da Previdência. A cada defesa do astrólogo escatológico, cai o apoio político e social.

O centrão já está abandonando o barco. E, embora alguns técnicos do governo tentem fazer algumas pequenas reformas microeconômicas, o que aconteceu nos governos Macri e Dilma vai se repetir aqui: contração econômica com inflação. 

Quando o presidente chama manifestantes de massa de manobra e idiotas úteis, a reação do empresário médio é reduzir ou postergar investimentos. E os consumidores travam. Otimismo alimenta investimentos, mas o presidente só passa desconfiança. 

A lua de mel, incluindo com o ministro da Economia, acabou (o dólar passar de R$ 4 não é coincidência). Caminhamos para o abismo lenta, mas inexoravelmente. 

Eu nunca quis tanto estar errado, mas quem puder se proteja da inflação e da recessão, porque elas já estão virando a rua e vêm com vontade.”

 

Vermelho, 20 de maio de 2019