Empresas de construção civil não veem perspectiva de melhora.

16 de julho de 2018

Nenhum outro setor da economia teve um desempenho tão negativo nos últimos anos quanto a construção civil. No primeiro trimestre, o PIB do setor, que engloba tanto o faturamento das construtoras como o salário dos trabalhadores, recuou 2,2% na comparação com o mesmo período de 2017. Foi a 16ª queda consecutiva. E as empresas não veem perspectiva de melhora.

“Em nenhum momento a situação do setor (da construção civil) melhorou de verdade. O que estamos enxergando é que o ritmo da queda está diminuindo, mas continua caindo”, avalia o vice-presidente de Economia do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), Eduardo Zaidan.

A análise do executivo reflete a situação das empresas e, também, a realidade do mercado de trabalho do setor. Apesar de o ritmo de demissões na construção civil ter diminuído consideravelmente, ainda não há sinais de que as empresas começarão a contratar. Nos últimos 12 meses encerrados em abril, 58 mil vagas foram fechadas. Nos 12 meses anteriores, haviam sido 431 mil.

Por outro lado, a confiança do empresário –fator importante para que as contratações sejam retomadas e o segmento volte a se movimentar– caiu após a greve dos caminhoneiros. Em junho, marcou 79,3 pontos, ante 82,4 em maio.

“O país realmente está em um mato sem cachorro. Temos uma insegurança muito grande, que impede a geração de empregos e dificulta a tomada de decisões do consumidor”, afirma o empresário Milton Bigucci, dono da construtora MBigucci. “Mesmo sem dívidas, a minha empresa não vai lançar mais imóveis do que deve.”

Ele diz que a construtora lançou quatro empreendimentos neste ano e tem outros seis projetos, já aprovados pela Prefeitura de São Paulo, na gaveta. A empresa só fará novos lançamentos quando sentir que o consumidor está mais confiante para comprar um imóvel.

“As incertezas na economia e na política estão muito fortes e o setor sente que o cliente está mais inseguro do que no começo do ano”, diz Bigucci

                

Distratos

Diante desse cenário de crise, nem a aprovação na Câmara do projeto de lei que regulamenta os distratos –como são chamadas as desistências de compra de imóveis– parece animar Bigucci. “A pacificação dos distratos não me faria lançar os seis projetos (engavetados), mas lançaria quatro deles com mais segurança.”

Durante a crise, muita gente devolveu imóveis comprados na planta e isso se tornou um pesadelo para as construtoras, que ficaram com produtos encalhados, tendo de ressarcir os compradores. O setor reivindica uma regulamentação para amenizar as perdas quando houver devolução.

Para Alexandre Frankel, dono da construtora Vitacon, o consumidor está mesmo mais assustado. “As incertezas fizeram com que a preocupação com a eleição se antecipasse. O que seria uma tempestade curta, de três meses, virou uma inquietação de seis meses.”

De acordo com ele, a empresa não revisou a meta de lançar nove empreendimentos neste ano por acreditar que as vendas deverão melhorar depois do pleito de outubro.

Zaidan também projetava que 2018 seria o ano da recuperação, mas a realidade tem se mostrado diferente, diz. “Até maio, tínhamos a expectativa de que a economia pudesse reagir, mas, depois disso, tudo mudou. O otimismo desapareceu.”

Para ele, a situação da construção decorre da falta de investimento. “A construção é reativa ao estado da economia. As obras correspondem a 50% dos investimentos no país. Com o volume de investimento atual, não se faz nem manutenção da infraestrutura, muito menos construção.” As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.

           

UOL, 16 de julho de 2018

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