Pesquisa desenvolvida por universidades americanas analisou dados de 2002 a 2014
Um quarto da disparidade salarial entre os trabalhadores negros ou pardos e os brancos no Brasil está relacionado ao processo de seleção e promoção das empresas, segundo pesquisa inédita de universidades americanas.
O estudo, desenvolvido por pesquisadores de Columbia, UC Berkeley e Carnegie Mellon, utilizou dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) entre 2002 e 2014.
“Separamos trabalhadores entre brancos e não brancos, e 75% da diferença é ligada a fatores como níveis educacionais, experiência ou região de residência. O resto tem a ver com as firmas”, diz Edson Severnini, um dos autores.
“Há dois tipos de vieses: algumas empresas empregam maior proporção de brancos, o que explica 20% da disparidade. Os outros 5% vêm das companhias que pagam menos para não brancos”, afirma.
Quanto maior é a qualificação profissional dos trabalhadores, maior é o descompasso.
“A lei proíbe discriminação racial, mas o Judiciário às vezes não enxerga esse desnível de contratações como racismo direto. O marco legal deveria ser atualizado com metas de admissão ou cotas”, afirma Thiago Amparo, da FGV.
“As lideranças empresariais precisam admitir que temos um problema. As experiências de ações afirmativas ainda são incipientes”, diz Ana Lúcia Custódio, do Instituto Ethos.
“Os diretores geralmente falam em promover a diversidade, mas isso precisa chegar aos demais gestores. O recrutamento às cegas pode ser uma opção”, diz Jorgete Lemos, da ABRH (associação de recursos humanos).
Folha de São Paulo, 12 de novembro de 2018