Fechamento de indústrias aponta para falta de perspectivas da economia, segundo Dieese

21 de janeiro de 2020

Entre 2015 e 2018, 17 indústrias fecharam as portas em média a cada dia no Brasil, reduzindo a oferta de empregos que pagam melhores salários.

 

 
Segundo diretor do IBGE, falta articulação entre Estado e setor privado para impulsionar a produtividade no setor industrial – AGÊNCIA BRASIL

São Paulo – Entre 2015 e 2018, 25.376 unidades industriais encerraram suas atividades. Em média, pelo menos 17 indústrias fecharam as portas a cada dia ao longo desses quatro anos, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado na semana passada. Para o diretor técnico do Dieese Clemente Ganz Lúcio, esses números são resultado da “gravíssima” recessão vivida pelo país, entre 2015 e 2016, e da recuperação “rastejante” no período posterior.

“Uma economia sem vitalidade, que tem impacto muito pesado sobre todo o setor produtivo, especialmente com esses dados que mostram o impacto na indústria de transformação”, afirmou Clemente ao jornalista Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (20).  O baixo dinamismo do setor industrial também aponta, segundo ele, para a falta de perspectivas rumo a uma retomada mais robusta da economia brasileira.

Para contornar tal quadro negativo, Clemente destaca a necessidade de cooperação entre o investimento público e o investimento privado, voltada para o incremento da inovação e da produtividade. Ele aponta que cada 1% de variação da atividade industrial representa a abertura ou fechamento de 6 mil unidades produtivas. Antes da crise, o país tinha 384.721 unidades industriais de transformação. Em 2018, esse número foi reduzido para 359.345.

O diretor do Dieese disse ainda que muitas dessas indústrias “jamais serão recuperadas”, já que as atividades produtivas estão sendo substituídas pela importação. As consequências, segundo ele, são a perda de empregos de maior qualidade, que pagam os melhores salários, e a deterioração da balança comercial brasileira. Pela primeira vez em 40 anos, a exportação de produtos primários (como grãos, carne e minérios) ultrapassou a venda de produtos industrializados, em 2019.

“Esses dados, mais uma vez, demonstram que estamos num caminho contrário ao desenvolvimento econômico capaz de gerar bons empregos, bons salários, com capacidade de incrementar a renda e a riqueza, gerando bem-estar e qualidade de vida para todos. Um país como o Brasil precisa de uma indústria robusta”, afirmou Clemente. Ele apontou que o setor agropecuário também passa por uma transformação tecnológica que deve limitar ainda mais a oferta de empregos.

 

RBA, 21 de janeiro de 2019