Inflação de junho afetou mais os mais pobres

13 de julho de 2018

Alta da inflação se abateu mais sobre os de renda mais baixa do que sobre os mais ricos

 

 

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em meio à recuperação lenta da economia, a inflação em junho foi a maior para o mês desde 1995.

A variação de 1,26% no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é em parte o reflexo da paralisação dos caminhoneiros iniciada em 21 de maio, que acabou afetando preços de alimentos e combustíveis no início do mês seguinte. Somados à alta do dólar, tais choques reforçaram as expectativas de aumento da taxa de juros básica pelo Banco Central.

O Indicador de Inflação por Faixa de Renda divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) reve- la que a alta da inflação se a- bateu mais sobre os mais pobres do que sobre os mais ricos. Enquanto o índice que se baseia na cesta de consumo das famílias de renda alta passou de 0,38% em maio para 1,03% em junho, a in- flação sentida pela faixa de renda muito baixa subiu de 0,41% para 1,5%.

No caso das famílias de renda alta, o peso maior foi dos transportes, que contribuíram com aumento de 0,4 ponto percentual no índice. Em particular, os combustíveis respondem por 8% do orçamento das famílias mais ricas, ante 2% do orçamento das famílias mais pobres.

A gasolina subiu 5% em junho –ao contrário do diesel, que sofreu redução de 5,66% em seu preço como consequência das negociações do governo em meio à paralisação.

Da inflação total que atingiu as famílias de renda muito baixa, 0,76 ponto percentual referiu-se à alta no preço dos alimentos, que foi de 2,03% no mês, em parte pelos efeitos da crise de abastecimento.

Além disso, o reajuste de 7,93% nas tarifas de energia elétrica e de 4,08% no preço do gás de botijão também afetou relativamente mais as famílias mais pobres.

“Em um curto espaço de tempo colocamos a economia em ordem, saímos da recessão e temos as taxas de juros mais baixas dos últimos anos”, afirmou o presidente Michel Temer no dia 24 de dezembro de 2017, em pronunciamento de fim de ano veiculado em rede nacional de TV e rádio.

“Já conseguimos baixar os preços dos alimentos e aumentar o poder de compra dos brasileiros. Está mais barato para comer, para vestir, para morar. Está mais barato para viver”, acrescentou. Quem dera.

A apenas alguns meses do processo eleitoral de 2018, os choques inflacionários se abateram mais justamente sobre aqueles que já vinham sendo mais afetados pelo desemprego, o crescimento lento dos salários e os cortes no Orçamento, ou seja, a população mais vulnerável.

Será impossível convencer essas famílias de que a culpa toda é da mobilização dos caminhoneiros, que, aliás, só durou tanto tempo porque contou com o apoio dos que já rejeitavam o atual governo e sua política econômica.

Não à toa, até a plataforma do pré-candidato do PSDB Geraldo Ackmin passou a tentar desassociar-se da agenda econômica de Temer por meio de críticas à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) do teto de gastos e de defesas de uma reforma tributária progressiva.

Em meio à desilusão crescente da população com a política, não é só a centro-esquerda que enfrenta dificuldades. Para quem apoiou a derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff em nome de uma melhora na economia, 2018 também não está nada fácil.

 
Laura Carvalho

Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de “Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico”.

   

Fonte: Folha de S.Paulo,13 de julho de 2018.