Número de idosos que voltaram a ser chefes de família cresce para 5,7 milhões

7 de agosto de 2018

 


8033200 kgh U203701880364N9B 1024x578GP WebDesde 2016 há uma forte tendência de crescimento dos domicílios cuja principal fonte de renda são aposentadorias e pensões.Daniel Castallno/Arquivo/Gazeta do Povo

 

Além do salário que recebem do INSS, muitos aposentados têm se mantido no mercado de trabalho não só para manter um padrão de vida, mas também para sustentar a família

Aos 72 anos, o aposentado José da Cruz Pereira é responsável por pagar todas as contas de sua casa. Apesar de morar com uma filha de 37 anos, e três netos, de 11, 18 e 19 anos, ele é o único que possui renda fixa. “Os maiores de idade não estão trabalhando e por isso eu assumo os gastos da família.”

Para arcar com as despesas, além do salário mínimo que recebe do INSS, o aposentado se mantém no mercado de trabalho. Ele complementa a renda com a venda de álbuns de formatura. “Eu gosto de trabalhar, por enquanto não penso em parar.”

Assim como na família de Pereira, os lares brasileiros que dependem do dinheiro dos aposentados estão em ascensão. Em um ano, a parcela de casas em que mais de 75% do ganho mensal vem de idosos subiu 12%, de 5,1 milhões para 5,7 milhões.

Os dados foram elaborados pela LCA Consultores, com base na Pnad Contínua, do IBGE. Segundo informa o instituto, desde 2016 há uma forte tendência de crescimento dos domicílios cuja principal fonte de renda são aposentadorias e pensões.

O engenheiro Eloi Gallego, de 71 anos, se preparou por quatro décadas para a aposentadoria. Seu objetivo era aproveitar o tempo livre para fazer viagens com a esposa.

Porém, quando sua filha e seu genro ficaram desempregados, Gallego assumiu todas as despesas familiares. “Como eu decidi não deixá-los perder a qualidade de vida que tinham, as contas aumentaram. Agora é necessário fazer economias na rotina”, diz o aposentado.

Para Thiago Luchin, advogado especialista em direito previdenciário, o principal risco das famílias contarem apenas com a aposentadoria é a desvalorização do dinheiro. “Com o tempo, o poder aquisitivo diminui. Como o reajuste é baixo,acada mês o dinheiro vale menos”.

 

O envelhecimento da população também influencia nesse aspecto

Os reflexos da crise econômica e a alta taxa de desemprego são aspectos que explicam o aumento da dependência da aposentadoria nas famílias.

Rogério Nagamine, especialista em gestão pública e governamental do Ipea (instituto de pesquisa econômica), diz que mudanças estruturais da sociedade também impactam. “O aumento da participação de idosos, aposentados e pensionistas na população está crescendo e isso interfere totalmente na economia.”

Ele alerta para os riscos econômicos. “No Brasil, a população ativa é quem financia a aposentadoria. Sem essas pessoas no mercado de trabalho, os problemas da Previdência vão perder ainda mais o controle.”

 

 Gazeta do Povo, 07 de agosto de 2018.