Pesquisa Datafolha frustra a direita e empolga a esquerda

12 de setembro de 2018
Reprodução

Campanha de Haddad deve ter início hoje com boas notíciasCampanha de Haddad deve ter início hoje com boas notícias

 

Ao contrário das expectativas criadas de que haveria substancial crescimento das intenções de voto no candidato Jair Bolsonaro, após o episódio em Juiz de Fora, a pesquisa Datafolha registrou que ele oscilou positivamente apenas 2%, dentro da margem de erro. Não surtiu efeito a nítida tentativa de inflar sua candidatura, com a superexposição da imagem convalescente do candidato por quatro dias na mídia, somada ao recurso de depurar sua imagem; de pregoeiro da violência, passou a ser apresentado como a grande vítima do processo eleitoral. 

Noticiou-se até que a cúpula da sua candidatura encaminhava-se para uma conduta mais equilibrada, mesmo com Bolsonaro fazendo apologia à violência, com o gesto de quem empunha uma arma, no leito do hospital. Circularam também notícias dando conta de migração de investidores para a sua candidatura, de Wall Street à Avenida Faria Lima, o centro financeiro paulistano. Ainda como parte desse movimento, saiu a pesquisa do banco BTG-Pactual, na manhã em que o Datafolha saiu a campo para medir as intenções do eleitorado, apontando Bolsonaro atingindo o patamar de 30%. 

As manobras, contudo, não foram suficientes para mover o candidato da sua posição anterior. Pelo Datafolha, Bolsonaro permanece tecnicamente na mesma posição que tinha na pesquisa de 21 de agosto. Ao mesmo tempo, sua rejeição pulou de 39% para 43%, um dado tão ou mais relevante, negativamente para ele, do que seu magro crescimento. Outro dado relevante é que Bolsonaro perde para todas as candidaturas no segundo turno, de acordo com a pesquisa. Ou seja: como se diz no popular, a montanha pariu um rato.

 

O destaque positivo dos esperados números do Datafolha foi o crescimento de Fernando Haddad, de 4% para 9% – o candidato que mais cresceu –, empatando tecnicamente com os demais que ocupam o segundo lugar (Ciro Gomes, Marina Silva e Geraldo Alckmin). Ressalte-se que esse salto se deu antes da oficialização da chapa Haddad presidente e Manuela D’Ávila vice. 

Houve ainda a atuação da Justiça Eleitoral, que impôs uma série de restrições para impedir ou dificultar a aparição da imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na propaganda eleitoral, mesmo ele não sendo apresentado como candidato. Outro fato positivo foi o crescimento da candidatura de Ciro Gomes, também campo progressista, de 10% para 13%.

Em contraste com esses dados, a situação de Geraldo Alckmin permanece estacionária. Praticamente estagnado, oscilou de 9% para 10%. Passados dez dias de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, o tucano revelou que não tem potencial, pelo menos até agora, de cumprir a promessa de decolar com a ampla exposição das suas propostas. A fragmentação de candidaturas no campo conservador continua sendo uma barreira para o seu crescimento. Além dos percentuais de Bolsonaro e Marina Silva (que declinou 5%), há as candidaturas de Álvaro Dias, Henrique Meirelles e João Amoêdo, todas flutuando em torno de 3%.

Chama a atenção, também, a queda de votos brancos e nulos, de 22% para 15%, um indicativo de que o eleitorado começa o movimento de fazer suas opções. Como Haddad foi o que mais cresceu, ao passo que Bolsonaro estagnou, é possível prognosticar que Alckmin retome a sua tática de campanha de atacar o líder da pesquisa, interrompida com o episódio de Juiz de Fora. Por sua vez, o crescimento da candidatura de Haddad, às vésperas da sua oficialização, é um fator a mais para intensificar o movimento de transferência de votos do ex-presidente Lula para a chapa progressista.

 

 Vermelho, 12 de setembro de 2018.