Previdência: tem que ser ‘muito ingênuo’ para acreditar na proposta do governo

28 de maio de 2019
Mídia tradicional bate na tecla única do ‘rombo’ da previdência e do terror pela ‘quebradeira’, mas discurso esconde que reforma da previdência de Bolsonaro favorece setor financeiro

A economista Maria Lúcia Fattorelli afirma que o sistema de Seguridade Social é o “maior patrimônio social do povo brasileiro”, e será destruído se for aprovada a proposta de reforma da Previdênciado governo Bolsonaro. Segundo ela, governo e mídia tradicional mentem para a população com milhões gastos em propaganda pelos grandes bancos. Ela alerta ainda que o alegado déficit no sistema de aposentadorias é “fake” e a transição para o sistema de capitalização defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, pode custar o equivalente ao PIB do Brasil. “Tem que ser muito ingênuo e desinformado para estar a favor dessa destruição do maior patrimônio social do povo brasileiro.” As afirmações foram feitas durante entrevista na edição desta segunda-feira (27) aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, ao Jornal Brasil Atual,  da Rádio Brasil Atual.

“Quem está a favor da reforma da Previdência não conhece o projeto. Quem se dedicou a ler o que está na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 não pode ficar a favor, a não ser que seja banqueiro. Essa proposta só favorece o setor financeiro”, afirmou a economista, que também é coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida..

Ela refuta os argumento de que a proposta de reforma vai combater privilégios e que a suposta economia de R$ 1 trilhão em dez anos vá se converter em investimentos. Ela ressalta que cerca de 85% desse valor vai sair de aposentados e pensionistas que recebem até dois salários mínimos por mês. O cálculo está presente no próprio projeto enviado pelo presidente, Jair Bolsonaro (PSL), à Câmara em fevereiro. “É só as pessoas separarem um tempo para ler. Os bancos, com todo o dinheiro do mundo, estão comprando muita propaganda.” Sobre o déficit, Maria Lúcia destaca que o sistema só registrou desequilíbrio após 2016, por conta da crise financeira criada pelos próprios bancos.

Junto a outros especialistas, parlamentares e religiosos, Maria Lúcia Fattorelli participa do seminário Desmonte da Previdência Social no Brasil: A Quem Interessa?, promovido pela Rede Jubileu Sul, a partir desta segunda-feira (27) no Centro Cultural Missionário, em Brasília.

 

Reprodução/TVT
“O problema do Brasil não está, nem nunca esteve na Previdência.
A Previdência é solução”, diz Maria Lúcia Fattorelli, da Auditória Cidadã da Dívida
 

Mídia

De acordo com a economista, a imprensa tradicional vem promovendo “verdadeiro terrorismo” em favor da aprovação da reforma. “A grande mídia é claramente financiada pelo setor financeiro, que paga as maiores propagandas. Não abrem espaço para quem é contra o projeto. Isso não é jornalismo sério, é lavagem cerebral. Fattorelli destaca que reforma vai retirar da economia o alegado trilhão.

“O problema do Brasil não está, nem nunca esteve na Previdência. A Previdência é solução. As pessoas que recebem seus benefícios de aposentadoria e pensão não são especuladoras. Pegam esse dinheiro e vão à feira. O feirante contrata um ajudante, que leva o dinheiro para casa, que vira consumo. Esse dinheiro circula e acaba gerando mais tributos para o governo.”

 

Capitalização

Em vez de ser destinado para investimentos, como dizem os propagandistas da reforma, a economista diz que o trilhão economizado será destinado para alavancar o sistema de capitalização. Nesse modelo, o individuo contribui para uma conta individual associada a um fundo controlado por um banco. O patrão não contribui, nem o governo. Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que de 30 países que adotaram a capitalização, 18 já desistiram desse sistema.

“É um novo modelo que nem pode ser chamado de Previdência, porque não tem segurança social alguma. Não tem garantia nenhuma de que as pessoas vão ter algum benefício futuro. Vai depender do funcionamento do mercado financeiro”, alerta a economista. Segundo ela, na Argentina, o gasto com a transição para o sistema de capitalização foi maior que o PIB do país e, aqui no Brasil, poderia alcançar até R$ 9 trilhões.

 

Acompanhe a entrevista na íntegra

 

RBA, 28 de maio de 2019