A 4ª Revolução Industrial, também conhecida como Indústria 4.0, deve abalar o mercado de trabalho no Brasil. Graças à crescente utilização de robôs e da inteligência artificial nos mais diversos serviços, cerca de 30 milhões de empregos formais devem ser eliminados até 2026. É o que aponta um estudo inédito do Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações da Universidade de Brasília (UnB).
Em diversos segmentos, máquinas movidas por tecnologia de inteligência artificial substituirão o trabalho humano
Conforme a pesquisa, num prazo de sete anos, 54% dos empregos formais do País poderão ser ocupados por robôs e programas de computador. O percentual representa nada menos que 30 milhões de vagas com carteira assinada, se forem levados em conta os dados atuais da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho. O estudo, desenvolvido ao longo de 2018, avaliou um total de 2.602 profissões.
Diversos segmentos serão impactos com a presença cada vez maior de máquinas movidas por tecnologia de inteligência artificial, que substituirão o trabalho humano. O futuro próximo terá o pequeno aparelho que limpa o chão de casa e reconhece objetos e paredes, atendentes virtuais e até o garçom em forma de tablet para o jantar a dois. Até serviços recentemente modernizados – como o check-in no aeroporto, a telefonista automática e o self-service no restaurante – tendem a incorporar mais invocações tecnológicas.
O estudo da UnB lista as dez profissões mais ameaçadas – aquelas que inevitavelmente serão substituídas por robôs e, por isso, tendem a ser extintas já na próxima década: taquígrafo, torrador de café, cobrador de transportes coletivos (exceto trem), recepcionista de hotel, cumim (auxiliar de garçom), salgador de alimentos, serrador de madeira, mestre de galvanoplastia, leiloeiro e gerente de almoxarifado.
Na outra ponta, há dez profissões com pouco ou nenhum risco de serem substituídas por robôs: engenheiro de telecomunicações, psicanalista, engenheiros de sistemas operacionais em computação, conservador-restaurador de bens culturais, analista de suporte computacional, técnico de enfermagem, estatístico, agente de ação social, oftalmologista e artesão com material reciclável.
“Robocalipse”?
Segundo um dos professores responsáveis pelo levantamento, Pedro Henrique Melo Albuquerque, os brasileiros estão entrando em nova fase do avanço da tecnologia sobre os postos de trabalho. Primeiro, máquinas substituíram atividades mais simples, como funções em linhas de montagem de fábricas. Agora, com o avanço da robótica e da inteligência artificial, há uma ameaça cada vez maior a profissões que requerem habilidades complexas.
Esse cenário gerou duas correntes de pensamentos sobre o futuro das profissões. Uma pessimista, chamada popularmente de “robocalipse”, defende que a automação causará uma avalanche de desemprego. A segunda, otimista, diz que o desenvolvimento da inteligência artificial vai impor adaptação dos empregados, mas criará demanda para empregos em tarefas que não podem ser realizadas por robôs e profissionais mais criativos.
Habilidades como originalidade e inteligência social são características difíceis de se automatizar, segundo o estudo. Por isso, quanto maior a subjetividade e a complexidade da tarefa, menor a chance de um computador roubar a cena. “Algumas profissões vão desaparecer, como aquelas que desenvolvem atividades rotineiras e que podem ser automatizadas, como ascensorista. Outras se adaptarão”, prevê o pesquisador Albuquerque.
Países em desenvolvimento esbarrão em empecilhos na busca do pleno avanço da automação. Para o professor, essas nações raramente coletam e disponibilizam dados de “qualidade” – componentes essenciais para alimentar as máquinas e, assim, ensiná-las suas funções. Sem contar o aspecto ético-social. “Será que todo mundo ficaria confortável, por exemplo, andando em um carro sem o motorista? Em caso de um acidente, quem seria responsabilizado?”
Vermelho, 04 de fevereiro de 2019