Na contramão da crise, imóveis de luxo lideram crescimento da construção

2 de agosto de 2018

Cidades como Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo recebem os empreendimentos mais sofisticados e caros da história. Segmento não para de se expandir

20180802004300121292e.jp02 08 2018 03gMaquete das torres Apogée e L’Essence, que serão construídas no Vila da Serra e serão os mais luxuosos edíficios de Minas Gerais
(foto: Daniel Mansur/Divulgação )

Daqui a três anos, a silhueta da paisagem do luxuoso bairro Vila da Serra, no limite entre Belo Horizonte e Nova Lima, ganhará novos contornos. É lá, entre as montanhas, condomínios e mansões, que serão erguidos os dois mais suntuosos edifícios de Minas Gerais: as torres Apogée e L’Essence. “A cidade vai ganhar um empreendimento memorável, de padrão internacional”, afirma Francisco Mattos, CEO da Somattos, construtora responsável pelo empreendimento junto com a Patrimar Engenharia. “Com ele, elevamos o patamar do luxo em Minas Gerais. É um salto para todo o mercado.”

Tudo o que envolve o projeto, batizado de La Reserve, é superlativo. Com Valor Geral de Vendas (VGV) calculado em R$ 335 milhões, o complexo residencial prevê apartamentos com vista de 360° e plantas entre 480 (L’Essence) e 671 metros quadrados (Apogée), pé- direito de 3,96 metros e até 5 suítes. “É uma oportunidade oferecer algo tão exclusivo, com um conceito tão diferenciado” afirma Alex Veiga, CEO da Patrimar. “Queremos surpreender até os mais exigentes.”

A construção do Apogée e do L’ Essence exemplifica o movimento de forte expansão do setor de luxo do mercado imobiliário. De acordo com os dados mais recentes da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o segmento de imóveis de luxo se descolou da indústria da construção civil e tem apresentado um desempenho de chamar a atenção.

O número de lançamentos dos empreendimentos para a alta renda cresceu 69,6% nos últimos 12 meses. No geral do mercado imobiliário, o avanço foi de 27,1%, com 88.620 unidades. Os números da Abrainc são endossados pelo Sindicato da Habitação, o Secovi. De acordo com cálculos da entidade, o mercado imobiliário de luxo cresce a um ritmo de 20% ao ano.

Com essa performance, fica fácil entender por que as grandes empresas do setor estão se dedicando, cada vez mais, aos imóveis avaliados em milhões de reais. É o caso da imobiliária Lopes, que lançará, no segundo semestre, um portal especializado em imóveis de luxo. O segmento terá mais de 5 mil ofertas de casas e apartamentos em áreas nobres de São Paulo, com valores acima de R$ 3,5 milhões. Segundo a empresa, esses empreendimentos somam cerca de R$ 20 bilhões em Volume Geral de Vendas. Os números da própria Lopes comprovam o potencial do mercado de luxo, que representou 10% das vendas da empresa no primeiro trimestre deste ano, mais do que o dobro dos 4% contabilizados em 2017.

Valor

O que mais atrai investimentos à indústria dos imóveis de luxo é o potencial de agregação de valor ao empreendimento. No caso das torres Apogée e L’Essence, segundo as construtoras, cada detalhe do projeto foi pensado para oferecer o máximo de exclusividade, como adega de vinhos, piscinas cobertas e descobertas com entrada direta para sauna, praça com lareira, playground com espaço kids, cinema, academias e espaço de relaxamento com sala de massagem.

“Com certeza, existe uma demanda reprimida para este segmento de luxo”, afirma o diretor comercial e de marketing da Patrimar, Lucas Couto. “O cliente deste projeto é exigente, único e se preocupa com bem-estar e segurança. Procura algo que o impacte e surpreenda. São homens e mulheres, casados, classe AAA”, diz Couto. “Para a concepção do La Reserve, por exemplo, buscamos referências até fora do país”, acrescenta Humberto Mattos, diretor-comercial da Somattos.

A Dávila Arquitetura, um dos maiores escritórios de arquitetura do país, foi responsável pelos projetos. “A ideia, desde o primeiro contato, foi fazer um empreendimento de Primeiro Mundo”, diz Alberto Dávila, fundador do escritório. Além do paisagismo de Alex Hanazaki, o único brasileiro a ter um projeto reconhecido como o mais bonito do mundo pelo ASLA Professional Awards, o design de interiores foi concebido por Eliane Pinheiro, influente nome do mercado.

“Pela posição dos terrenos, conseguimos ter uma luminosidade natural do nascer ao pôr do sol, aproveitando todas as horas dos reflexos da luz nas montanhas que cercam o residencial”, destaca Eliane Pinheiro. À frente das negociações está Ricardo Pitchon, sinônimo do mercado imobiliário de alto luxo.

Em São Paulo, a construtora Setin está apresentando um residencial com apartamentos que custarão mais de R$ 9 milhões. O JL Life é um deles. São 3 opções de planta: tipo, penthouse e duplex. Além de equipados com o que existe de mais moderno em automação, os apartamentos são vizinhos do Parque do Ibirapuera, na região mais nobre da capital paulista. “Traduzimos nossas quatro décadas de experiência em desenvolvimento de produtos imobiliários de alta qualidade”, destaca Antonio Setin, presidente da Setin Incorporadora. A Setin também está construindo o AD+D Jardim Paulista, com preços de R$ 4,9 milhões. São apenas 14 unidades em diversas opções de planta e um imenso terraço.

A expansão do mercado imobiliário de luxo não está restrita às capitais ricas do Sudeste, como São Paulo e Belo Horizonte. A construtora curitibana AG7 está construindo na capital paranaense aqueles que serão os mais luxuosos empreendimentos da cidade: o residencial Ícaro, que será entregue em fevereiro de 2019, e outro, ainda sem nome definido, em 2021.

Novo patamar

O Ícaro está sendo construído em frente ao Graciosa Country Club, no bairro Cabral. O luxuoso projeto é assinado pelo arquiteto Arthur Casas e adota o conceito de casas suspensas e a valorização das áreas verdes que ladeiam os edifícios em toda a sua altura, em uma arquitetura integrada ao paisagismo.

Os apartamentos poderão custar mais de R$ 12 milhões, com plantas personalizadas e diferentes metragens, entre 315 e 840 metros quadrados. “O comprador de um apartamento desse padrão está atento ao valor, não ao preço”, diz o CEO da AG7, Alfredo Gulin Neto. “Antigamente, o negócio era empilhar tijolo e vender apartamentos, sem dar muita atenção aos detalhes, mas hoje esse modelo não funciona mais”, afirma o executivo.

O projeto, que ainda não recebeu nome, está sendo desenvolvido em parceria com a Triptyque Architecture. Com 130 metros de altura, o edifício é inspirado no design dos arranha-céus de Nova York e oferecerá vista de 360º da cidade. Com um Valor Geral de Vendas (VGV) de aproximadamente R$ 200 milhões, o projeto tem participação do arquiteto francês e sócio da Triptyque, Greg Bousquet. “Estamos redefinindo os conceitos de luxo em Curitiba e, com certeza, vamos avançar para novos mercados nos próximos anos”, garante Gulin Neto.

 

Sem recessão

  • Os lançamentos de imóveis para o público de alta renda cresceram mais do que o dobro da média do mercado 

    Acumulado em 12 meses (maio de 2017 a maio de 2018)

    Mercado de luxo: 69,6%

    Mercado geral: 27,1%

    Fonte: Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc)

 

Correio Braziliense, 02 de agosto de 2018