‘Reforma Tributária pesa mão nos pobres e favorece os mais ricos’

14 de outubro de 2019

As propostas de reforma tributária atualmente em debate no Congresso Nacional passam longe do verdadeiro problema do sistema de tributação nacional: solucionar a fórmula de tributação regressiva que pesa a mão sobre os mais pobres e favorece os mais ricos do País. Essa é a avaliação dos especialistas que debateram, nesta semana, a reforma tributária, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH).

 

Audiência publica realizada no Senado para discutir as propostas de reforma tributáriaAudiência publica realizada no Senado para discutir as propostas de reforma tributária – Alessandro Dantas/Agência Senado

 

Os convidados criticaram o fato de as propostas em discussão tanto na Câmara dos Deputados (PEC 45/2019), quanto no Senado Federal (PEC 110/2019), tenham foco apenas na simplificação e unificação de tributos. O Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ou o Imposto Sobre Bens e Serviços (IBS) – propostas de unificação de tributos em debate – tratam exclusivamente da tributação sobre o consumo, alertou José Ernane de Souza Brito, presidente do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz).

O representante do Sinprofaz explicou que, dentre os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), 37% da tributação é aplicada sobre a renda. No Brasil, apenas 18% da tributação é sobre a renda.

“Quando a tributação é sobre o consumo, sobre o valor agregado, essa tributação nefasta e regressiva, no Brasil, chegamos a 51% de tributação. Nos países mais desenvolvidos da OCDE essa tributação é de apenas 25%. Progressivamente, que é o que se busca numa reforma justa e solidária, tributamos apenas 18% diretamente sobre a renda. O caminho é a tributação de capitais, grandes fortunas, grandes heranças, lucros e dividendos. E essas coisas estão passando longe da reforma. Só se fala de simplificação de tributos. Mas ninguém tocou no verdadeiro e maior problema da reforma tributária que é a aplicação da justiça fiscal”, criticou José Ernane.

Para o delegado sindical do Sinprofaz, José Leite dos Santos Neto, é possível que uma reforma sobre os tributos em circulação e consumo ocorra, mas a inserção de uma reforma na tributação de renda a patrimônio seja mais difícil por conta dos interesses envolvidos nessas alterações.

“Essa tensão entre liberdade e eficiência de quem é mais liberal e quem é mais social se mostra muito presente nesse debate. Podemos usar a tributação sobre o patrimônio e a renda como um elemento extrafiscal de combate à desigualdade. Talvez possamos formular uma alíquota incidente sobre desigualdade, aplicada às grandes fortunas. Sei que é difícil, mas politicamente podemos fazer nossa parte”, explicou.

O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da CDH, se comprometeu a apresentar uma proposta que busque a taxação de grandes fortunas como forma de combater a desigualdade social no País. Além disso, Paim criticou o fato de a reforma da Previdência ter sido iniciada antes da conclusão de uma reforma tributária efetiva.

“A reforma tributária mexe, de fato, com a estrutura de poder, com os grandes. É muito fácil mexer na Previdência, no salário mínimo e na legislação trabalhista. Só mexem com os pequenos, aqueles que mais precisam. Quero ver agora na reforma tributária. Sempre defendi que a reforma tributária deveria ser feita antes da reforma da Previdência. Meu sonho é que aconteça uma reforma tributária solidária, justa e progressiva”, destacou.

“A agenda da reforma tributária tem tudo a ver com os direitos humanos. A questão da desigualdade fiscal e social está intimamente ligada a opção tributária que o legislador fez. E a desigualdade social diz respeito aos direitos humanos, por óbvio”, concluiu Achilles Linhares de Campos Frias, diretor do Sinprofaz.

 

Vermelho, 14 de outubro de 2019