Qual é saída para uma economia brasileira no fundo do poço?

4 de junho de 2019

O PIB caiu de forma drástica, o desemprego se elevou acentuadamente e os empresários perderam os parâmetros para realizar investimentos.

Por João Sicsú*

 

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 Nas últimas semanas alguns economistas começaram a falar que a economia brasileira estaria em estado de depressão. Parece que a avaliação começa a se tornar mais realista. Quase todos abandonaram a ideia da recuperação lenta. Alguns falam de estagnação dando uma ideia difusa do que pensam. A turma que fala de estagnação confunde suas vontades com realidades.

Trimestre após trimestre, desde 2014, a economia vem mostrando fraquezas. A taxa média de crescimento de 3% do período 2011-2013 foi perdida. A economia mergulhou no fundo do poço após dois anos de agudas recessões (2015 e 2016). A partir de 2017, estacionou na depressão.

A depressão é um estado da economia que tem algumas características específicas. O PIB caiu de forma drástica, o desemprego se elevou acentuadamente e os empresários perderam os parâmetros para realizar investimentos. Predomina a paralisia que é a melhor defesa diante de uma economia que é desconhecida. Estamos dentro da economia da depressão (PIB retraído e desemprego elevado por mais de 16 trimestres).

A depressão não é uma condição de curto termo que pode ser facilmente superada pela ação empresarial ou de consumidores. Empresários perderam a capacidade de formar expectativas sobre o futuro ou quando formam tais expectativas, elas são pessimistas. Ainda há o caso daqueles que formam expectativas otimistas, mas que não são capazes de colocar um centavo para apostar no seu otimismo.

A depressão tem características econômicas, mas tem acima de tudo características comportamentais. Consumidores perderam a capacidade de consumir seja devido ao desemprego seja devido à expectativa de desemprego. Empresários também tiveram perdas, mas além disso não têm esperanças porque não conseguem decifrar o mundo econômico novo que estão vivendo.

Esses comportamentos são capazes de explicar a situação em que se encontra a economia brasileira. Não são revelados indícios seja de um colapso total, seja de uma recuperação conectada com uma expansão. O que ocorre é que a economia revela a cada trimestre taxas pífias, para cima ou para baixo, de crescimento do PIB e do investimento. Os gráficos mostram a queda acentuada do investimento e do PIB (de 2014 a 2017) e depois evidencia subidas e quedas tênues até os dias de hoje.

 

Sem surpresas

As quedas do PIB (de -0,2) e do investimento (de -1,7%) do 1º trimestre de 2019 não foram surpresas. Mas se ocorressem subidas, isso também não deveria surpreender. Seria surpresa se as taxas fossem elevadas e positivas tanto para uma variável quanto para outra. Em estado de depressão isso não acontece, tais taxas precisariam estar correlacionadas com um comportamento empresarial arrojado.

 

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Não é possível sair da depressão sem uma decisão política de governantes a favor de um plano grandioso de investimentos públicos. Foi assim nos 1930, quando Franklin Roosevelt aplicou o New Deal nos Estados Unidos. Mas como disse Paul Krugman: “Na Grande Depressão, os líderes tinham uma desculpa: ninguém realmente compreendia o que estava acontecendo nem sabia como resolver a situação. Os líderes de hoje não têm essa desculpa. Temos tanto o conhecimento quanto as ferramentas para acabar com esse sofrimento”.

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O maior problema da economia brasileira talvez não seja a depressão, mas sim o diagnóstico que está errado e, ainda mais sério, mas em consequência, as ferramentas estão sendo utilizadas de forma incorreta.

Nos Estados Unidos, quando a economia entrou em depressão nos anos 1930, o presidente era Robert Hoover. As palavras de Joseph Stiglitz sobre aqueles anos são ilustrativas, parecem que foram ditas para o Brasil de hoje: “[Muitos] deram apoio a Andrew Mellon, o secretário do Tesouro do presidente Robert Hoover, e à sua tentativa de restaurar o equilíbrio fiscal: a recessão causara uma queda na arrecadação de impostos mais acelerada que a dos gastos. Para restaurar a ‘confiança’, segundo acreditavam os conservadores fiscais de Wall Street, era necessário cortar gastos, um após o outro.”

No lugar de gastar realizando investimentos públicos, o governo brasileiro somente anuncia novos cortes de gastos. O resultado alcançado será o mesmo de Hoover. A situação tende a permanecer por mais alguns anos. A sorte dos norte-americanos foi que Roosevelt sucedeu Hoover e soube compreender a gravidada da situação e aplicou as ferramentas corretas.

Gastos públicos são necessários e talvez sejam a única saída não porque são suficientes para fazer o PIB crescer de forma significativa, mas sim porque tem influência sobre o comportamento empresarial que passará a ter novos parâmetros de avaliação.

A máquina tem que ser religada pelo governo realizando investimentos. Em seguida, as outras peças entrarão em funcionamento. Empresários, então, passariam a formar expectativas otimistas e poderiam voltar a apostar em suas esperanças. Mas o governo tem que dar o exemplo. 

*Por Por João Sicsú é professor do Instituto de Economia da UFRJ, foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA entre 2007 e 2011.

Fonte: CartaCapital

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Vermelho, 04 de junho de 2019