“Economia brasileira vive uma depressão”, diz economista da UFRJ

3 de junho de 2019

Assim como nos Estados Unidos de Roosevelt, Brasil precisa de um amplo programa de investimentos em obras públicas e em programas sociais para reativar o consumo e dissipar as incertezas.

 

Em vez de cortas, governo deveria lançar programa de investimentos para estimular a criação de empregos.

 

O que a retração de 0,2% no PIB no primeiro trimestre revela é que a economia brasileira não corre o risco apenas de entrar novamente em recessão. O quadro, muito mais grave, pode ser de depressão econômica, como ocorreu nos Estados Unidos na década de 1930, depois do crash da Bolsa de Valores de Nova York. É o que afirma o  economista João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“A economia brasileira vive uma depressão. Não sou só eu que estou falando isso. Nas últimas semanas vi os economistas Afonso Celso Pastore e Luiz Gonzaga Belluzo também utilizando o mesmo termo”, destacou Sicsú, em entrevista aos jornalistas Marilú Cabañas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual nesta sexta-feira (31).

Recessão técnica é quando a economia de um país registra dois trimestres seguidos de crescimento negativo. Já a depressão, segundo Sicsú, é definida por um longo período de movimentos de baixa magnitude, para cima ou para baixo, sem o impulso necessário para sair do fundo do poço, retomando os níveis de investimento e crescimento do período anterior à eclosão da crise que origina a depressão.

 

O mergulho

“O Brasil mergulhou profundamente numa recessão que começou a dar sinais em 2014. Entre 2015 e 2016, foi o mergulho propriamente. Em 2017, 2018 e 2019, estamos no fundo do poço. Subimos um pouquinho, caímos um pouquinho. Essa é a característica: ficar caminhando no fundo do poço. Às vezes para cima, às vezes para baixo, mas jamais dando um salto para sair dessa situação”, explica o economista.

 

Diagnóstico

Assim como o governo faz atualmente no Brasil, medidas de contenção de gastos, com cortes em políticas sociais, também foram tentadas pelos norte-americanos após a eclosão da crise. “Cada vez que cortava, as receitas caiam cada vez mais, e o déficit aumentava. A miséria social se espalhou pelos Estados Unidos.” Eles só conseguiram efetivamente sair dessa situação quando o presidente Franklin D. Roosevelt lançou o New Deal, um amplo plano de obras públicas e programas sociais com o objetivo de estimular a reativação da economia.

 

Saída

“O caminho para sair da depressão não é esperar os consumidores começarem a consumir, porque os trabalhadores estão desempregados ou com expectativa de desemprego. Não é de se esperar que os empresários invistam, porque também estão com dificuldades e expectativas pessimistas sobre o futuro”, destaca Sicsú. Cabe ao governo intervir nesse cenário de incertezas. “Temos que aprender com as lições da história e com a teoria econômica para poder tomarmos as decisões corretas.”

 

RBA, 03 de junho de 2019