Sindicatos discutem como atrair jovens e aumentar representação

28 de fevereiro de 2019

Para presidente de central internacional, movimento vive crise e precisa se preparar para “disputa política”

 

O movimento sindical precisa descobrir meios de atrair a juventude e aprimorar sua comunicação para aumentar a representação das entidades, ainda mais em tempos de ataque às organizações e ascensão do conservadorismo, avaliaram dirigentes do Brasil e da Itália, durante seminário realizado hoje (27) na sede da CUT, em São Paulo. “O sindicalismo no mundo todo encontra-se sob uma crise de representação”, afirmou o presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), o brasileiro João Felício.

“No mundo inteiro, nós não representamos 20% dos trabalhadores. É um desafio para o movimento sindical fazer com que sejamos maioria”, observou o dirigente. Ele lembra que mesmo países tradicionalmente fortes na organização, como a Alemanha, perderam associados nos últimos anos. Nos Estados Unidos, a taxa de sindicalização, que já chegou a 30%, hoje não chega a 10%. No país europeu, está em torno de 20%.

O Brasil também já esteve em situação melhor. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE, de 91,5 milhões de pessoas ocupadas em 2017, só 13,1 milhões eram sindicalizadas. A taxa de sindicalização naquele ano foi de 14,4%, a menor da série histórica, iniciada em 2012, quando estava em 16,2%.

“É uma luta permanente”, diz Felício, fazendo ponderações. “Isso não significa que esses 80% que não são sócios não vejam o sindicato como referencial importante. É uma disputa política.” Segundo ele, em países nórdicos, que apresentam taxas maiores de sindicalização, “alguns serviços oferecidos pelo Estado passam pelo sindicato”.

O presidente da CSI acrescenta ainda que, no Brasil, existe perseguição a trabalhadores que se associam. “Às vezes, quando o trabalhador quer ser desligado da empresa, ele se filia ao sindicato, e é demitido na hora. Atacar o sindicato é um atentado contra a democracia.”

A extinção do imposto (ou contribuição) sindical, na “reforma” trabalhista, impôs mais dificuldades aos sindicatos, que precisam se manter por contribuições espontâneas. “Oferecer serviços é uma forma de atrair associados. Ninguém é contra esse tipo de coisa, desde que não seja o essencial do sindicato.”

Atrair jovens é outro desafio imposto ao sindicato, uma tarefa que parece mais difícil em tempos de uma “lógica neoliberal” que impõe a individualização sobre o coletivo, como observa Felício. “Eleição (sindical) tem de ter um percentual mínimo de renovação”, diz, acrescentando que a comunicação das entidades não pode se transformar em “aparelhamento”, com personalização excessiva. O dirigente propõe uma pauta sindical mais ampla, abrangendo temas como cultura, além da agenda tradicional de reivindicações.

Segundo Marco Beretta, secretário-geral da Filcams (federação italiana que representa trabalhadores dos setores de serviços, comércio e hospedagem), vinculada à Confederação Geral Italiana do Trabalho (Cgil), os trabalhadores têm sido muito influenciados pelas redes sociais. E os sindicatos não conseguem influenciar nas escolhas eleitorais. “Somos autônomos politicamente, mas não indiferentes.” Ele observa que o papel das entidades não é fazer política, mas transmitir valores e mostrar que o voto tem consequências diretas no dia a dia.

Beretta falou sobre o projeto Open Corporation, uma plataforma que busca monitorar o comportamento de empresas multinacionais em relação ao trabalho. O sindicalista fez uma comparação com o Trip Advisor, um site de avaliação para viagens. Já o trabalho desenvolvido na Itália procura “avaliar a multinacional em relação a como ela se comporta com os trabalhadores, sobre os contratos e as condições de trabalho que oferece”.

 

RBA, 28 de fevereiro de 2019