Em quatro anos, emprego cai 34% na construção

26 de fevereiro de 2019

O total de vagas com carteira assinada perdidas no setor foi de 1,17 milhão.

 

Dados há pouco divulgados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam o tamanho do tombo sofrido pelo emprego no setor da construção civil, o mais afetado pela crise econômica. Entre 2014 e 2018, o número de pessoal diretamente ocupado neste ramo de atividade, englobando trabalhadores formais e informais, sofreu um recuo de 14,4%, a maior taxa entre todas as áreas analisadas no levantamento. Em números absolutos, os empregos na construção civil, em quatro anos, caíram de 7,8 milhões para 6,7 milhões, passando a responder por 7,3% de toda a mão de obra do País, taxa que era de 8,5% em 2014.

A situação é pior tomando o número de vagas com carteira assinada no setor, que despencou nada menos do que 34% no período considerado, acarretando a perda de 1,17 milhão de postos de trabalho. De acordo com dados da Pnad, analisados pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Sindicato da Indústria de Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), a retração foi maior no subsetor imobiliário (eliminação de 42,9% de vagas), seguido por obras de acabamento (35,5% menos empregos), preparação de terrenos (menos 33,7%) e infraestrutura (33,1%).

Foi uma “tempestade perfeita”, como afirmou a economista Ana Maria Castelo. De uma parte, a demanda por casa própria se retraiu fortemente com a queda dos níveis de renda da população e escassez de crédito, o que se refletiu também na encomenda de reformas residenciais e outros pequenos serviços. De outra parte, a construção pesada se desacelerou abruptamente com o desequilíbrio fiscal do setor público e a situação crítica em que se encontram grandes empreiteiras objeto de processos contra a corrupção.

Cabe lembrar que uma retração tão acentuada da atividade-fim repercutiu sobre a área de material de construção, afetando seriamente amplos setores da indústria.

Para este ano, a expectativa é de uma retomada, ainda que moderada. O melhor ambiente de negócios, proporcionado pela nova política econômica, pode desencadear um novo ciclo de investimentos não só no setor imobiliário, como na infraestrutura. Seja como for, a criação de vagas na construção civil deve ser ainda tímida.

 

Estadão, 26 de fevereiro de 2019