Governo Bolsonaro emprega parentes e amigos em altos cargos e salários

12 de fevereiro de 2019

O governo Bolsonaro é generoso com seus parentes e amigos. O filho do vice-presidente, Hamilton Mourão, triplicou o salário no Banco do Brasil (R$ 36 mil). A empresária Leticia Catelani, amiga de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, descolou um empregão na Apex (R$ 43 mil). Agora, Bruna Luiza Becker, amiga do assessor internacional de Bolsonaro, Filipe G. Martins, foi nomeada assessora do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodrigues e vai ganhar R$ 13 mil por mês.

 

 

 

É do curso superior de Relações Internacionais que vem a amizade de Bruna com Martins, o redator do discurso feito por Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Um discurso de seis minutos, embora o presidente dispusesse de 45 minutos para falar à nata global dos endinheirados.

De 2011 a 2013, Martins estudou na Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). Ali, ele e Bruna fizeram parte da mesma gestão do Centro Acadêmico do curso de Relações Internacionais. Eles estudaram depois na Universidade de Brasília (UnB), onde o assessor de Bolsonaro se formou em 2015. A dupla tem afinidade intelectual: os dois são discípulos do “filósofo” Olavo de Carvalho e, a exemplo do guru bolsonarista, acreditam na existência de uma trama comunista por trás de tudo.

“O marxismo e sua aplicação não visam produzir uma sociedade justa e igualitária, mas sim, renegar a natureza humana na construção de um novo ser, destruindo todo o legado cultural, os povos e as nações que se colocarem no caminho”, afirmou Bruna em artigo de 2013, Com o título “Marxismo cultural: a raiz do problema moral em nossa sociedade”, o texto tem uma deferência ao amigo: “Meus agradecimentos especiais às dicas e auxílio de Filipe Martins”. 

Com sua visão sobre “moral”, Bruna tem tudo para dar certo na equipe do ministro da Educação, Vélez Rodrigues, que defende, entre outras coisas, a volta do ensino de “moral e cívica”. Dias atrás, Rodrigues tachou um jornalista de O Globo, Ancelmo Gois, de agente da KGB, o finado serviço secreto da ex-União Soviética. Foi em uma nota em resposta a uma informação de Gois sobre o sumiço de programas com pensadores de esquerda, como Karl Marx, da grade da TV Ines – emissora online para surdos mantida com verba do MEC.

Com a nomeação de Bruna, aumenta o número de amigos e parentes que são dão bem no governo. Rossell Mourão arranjou um cargo de assessor especial do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, no mesmo dia da posse de Novaes, vista da plateia pelo pai do promovido, o vice-presidente Mourão. Rossel – que ganhava R$ 12 mil – agora embolsa R$ 36 mil.

A empresária Leticia Catelani é amiga de Eduardo Bolsonaro, com quem divide a paixão por clubes de tiro. Tão amiga, que em setembro de 2018 foi expulsa do cargo de secretária-geral do PSL em São Paulo. A cúpula nacional do partido bolsonarista havia recebido queixas de que ela usava a amizade com Eduardo para passar por cima da direção paulista da sigla.

Na Apex, Leticia se desentendeu de cara com o então presidente do órgão, Alex Carreiro. Levou a melhor graças à amizade com Eduardo e, também, à proximidade que começou a construir com o chanceler Ernesto Araújo, a quem a Apex se subordina. Ferreira perdeu o cargo, e Leticia salvou o salário de R$ 43 mil mensais.

 

Vermelho, 12 de fevereiro de 2019