Capitais mais negras do Brasil, Salvador e Rio de Janeiro apresentam alto nível de desigualdade racial no mercado de trabalho. Bahia é o quarto do país em percentual de negros, com 80,2% da população autodeclarada. A capital do Rio é atualmente a segunda maior em população negra. A média nacional é de 55,4%.
Por Iberê Lopes*
No 3º trimestre de 2018, o contingente de desocupados ultrapassou 12 milhões de pessoas. A participação dos pardos passou a ser de 52,2%; a dos brancos reduziu para 34,7% e dos pretos subiu para 12,0%.
Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), que é natural da cidade de Salvador, a capital baiana concentra a maior desigualdade social entre negros e não negros. “Falo da cidade de Salvador, a capital colonial do Brasil. Hoje, estima-se que negros e brancos só terão uma renda equivalente em 2089, daqui a pelo menos 71 anos”, ressalta.
De 2016 para 2017, metade dos trabalhadores baianos que ganhavam menos (R$ 444) foi a 4ª maior entre os estados brasileiros. Enquanto isso, o aumento dos que já ganhavam mais no estado (+31,7%) bateu recorde. Os 10% de trabalhadores com maiores salários apresentaram ligeira queda no rendimento (-3,0%), passando de R$ 9.526 para R$ 9.242.
Em 1 ano, a Bahia viu a distância entre os 10% de trabalhadores com os maiores rendimentos e a metade dos trabalhadores com menores rendimentos crescer 40%. A média nacional ficou estável, com uma pequena redução de -0,50%.
A taxa de desocupação, no terceiro trimestre de 2018, dos que se declararam brancos (9,4%) ficou abaixo da média nacional (11,9%). Porém, a dos pretos (14,6%) e a dos pardos (13,8%) ficaram acima, de acordo com dados do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua tri).
O Rio de Janeiro apresentou resultados negativos no levantamento apresentado em fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O estado teve o segundo maior número de desempregados no período analisado, passando de 494 mil em 2014, para 1,2 milhões de pessoas sem trabalho em 2017.
Vice-líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), alerta para a luta estrutural de combate ao racismo revelado nos índices de desemprego. “É um dos pilares da opressão (falta de oportunidade de trabalho), num país como o Brasil que tem uma herança escravagista. Uma herança muito dolorosa, onde até hoje temos consequências e dados extremamente pesados sob a população negra”, concluiu Feghali.
A variação na taxa de desemprego nacional ficou elevada para todos os grupos. O maior aumento absoluto na taxa de desemprego está entre as mulheres negras. Elas representam uma taxa 80% maior que antes do início da recessão econômica. O menor aumento foi para os homens brancos.
Vermelho, 21 de novembro de 2018