Dois minutos. Esse é o tempo necessário para acessar um manifesto on-line, ler os argumentos e se tornar um apoiador. No último ano, mais de 3 milhões de brasileiros agiram dessa forma, e as duas maiores organizações mundiais de abaixo-assinados abriram filiais no país. A novidade piscou no radar da classe política, que ainda tenta aprender como lidar com esse mecanismo de pressão. Os números são superlativos e devem acompanhar o avanço da banda larga no país – hoje disponível para 30% dos brasileiros. Dois milhões assinaram uma petição para que a Câmara dos Deputados votasse o projeto da Lei da Ficha Limpa. Um milhão e 600 mil colocaram seu nome contra a eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidir o Senado. Recém-eleito para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) já é alvo de um manifesto pela sua destituição com 180 mil apoiadores. Leogump Carvalho/Frame/Folhapress Ampliar imagem Redes sociais mobilizam protestos: Em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília e Salvador, populares protestaram, durante o fim de semana, contra a eleição do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Na Avenida Paulista, 600 pessoas participaram do ato de repúdio no sábado. No mesmo dia, em Curitiba, a concentração foi na Praça Santos Andrade. Soteropolitanos se encontraram no Farol da Barra (foto), no domingo. O protesto foi organizado pelas redes sociais, por militantes de direitos humanos, ativistas pelos direitos de gays e negros. Em algumas cidades, manifestações contra-Feliciano se encontraram com protestos pela saída de Renan Calheiros da presidência do Senado “Ativismo de sofá” Tanta evidência despertou desconfiança de setores da sociedade, que temem que os abaixo-assinados on-line consolidem o “ativismo de sofá” e enfraqueçam formas tradicionais de protesto. Mas, para pesquisadores, a tendência é irreversível: a internet consolidou um novo espaço público para debate e formação de opiniões. Para Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz, ONG internacional de ativismo on-line que reúne 20 milhões de apoiadores, sendo 3 milhões brasileiros, o modelo tradicional de democracia representativa, com um voto a cada quatro anos, é insuficiente para dar conta de uma realidade na qual os cidadãos podem se conectar rapidamente em torno de um objetivo comum. Abramovay cita o ato de compartilhar uma petição no Facebook, para ele um comportamento “profundamente político” na medida em que a pessoa assume uma posição diante de seus amigos e abre espaço para contra-argumentos. “Considero despolitizador dizer que a política feita ali é menos importante.” Alemanha Atento ao fenômeno, o parlamento alemão desenvolveu sua própria plataforma oficial para que a população organize abaixo-assinados. Se a petição alcançar 50 mil apoiadores, os deputados são obrigados a discutir o tema.
Fonte: Gazeta do Povo, 11 de março de 2013