É difícil pensar em tensão maior no território argentino que uma final de campeonato entre Boca Juniors e River Plate. Estádio lotado, torcedores ensandecidos gritam, xingam e parece que a qualquer momento a arquibancada pode desabar. Esta é a sensação que se tem agora, mas quem desabou foi a economia que está à beira do colapso e os torcedores estão nas ruas – unidos – porque o inimigo é o presidente Maurício Macri, responsável pela tragédia financeira.
Por Mariana Serafini
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Manifestação em Buenos Aires nesta terça-feira (25)
Macri se elegeu prometendo que iria unir o país. E não falhou. Nesta terça-feira (25) a população tomou as ruas, mais unida que nunca, para denunciar o completo caos econômico em que a Argentina se afundou nos últimos dois anos. Desvalorização de 50% do peso em relação ao dólar, a inflação subindo em ritmo galopante deve chegar a 42% em 2018, juros, desemprego, aumento de tarifas básicas.
Diante da crise econômica, Macri recorreu ao FMI para acalmar os ânimos. Mas o mercado se agitou mais que a torcida do River diante de uma falha do árbitro no Monumental de Núñez. Com a arquibancada prestes a desabar, o presidente do Banco Central da Argentina, Luis Caputo, abandonou Macri em campo. Nesta terça-feira, com as ruas de Buenos Aires lotadas de manifestantes, ele renunciou ao cargo “com a confiança de que o novo acordo com o FMI vai reestabelecer a confiança sobre a situação fiscal, financeira, monetária e cambiária”.
No meio da partida, Macri vai perdendo seus jogadores porque diferente dos astros do futebol argentino, o empresariado não tem raça em campo e já entregou a cabeça do capitão. Quando nem o anúncio do empréstimo acalmou os ânimos, e ele decidiu pedir um adiantamento ao FMI, só fez piorar a situação. Até a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, começou a ver com desconfiança a estabilidade prometida pelo presidente e duvidou da capacidade do país de manter a negociação e pagar a dívida de 50 bilhões de dólares.
Maior greve geral dos últimos tempos
A insegurança econômica trouxe aos argentinos a lembrança de 2001, quando o país quebrou totalmente e em poucos dias 5 presidentes passaram pela Casa Rosada sem conseguir dar conta da crise. A estabilidade só voltou em 2003, com a eleição de Néstor Kirchner.
A crise de agora só pode ser comparada à de 2001 e por isso os argentinos fazem nesta segunda e terça-feira a maior greve geral dos últimos tempos. Os serviços de metrô de Buenos Aires estão suspensos desde às 20h de ontem, o sistema de ônibus coletivo, os aeroportos e os bancos também pararam.
A única movimentação das ruas acontece nos pontos de manifestação. Nos demais locais impera o completo vazio. O serviço de coleta de lixo foi suspenso, bem como o abastecimento de caixas automáticos e o suprimento de combustíveis.
Além de Buenos Aires, a greve também causou grande impacto em outras cidades do país, entre elas La Plata, Rosario, Tucumán, Mendonza, Jujuy e Neuquém.
Liderada pelas centrais sindicais, movimentos sociais e partidos da oposição, a greve denuncia o rechaço dos trabalhadores argentinos à volta do FMI ao país. Eles sabem o que aconteceu e sabem que a história se repete como tragédia.
Com o país colapsado, Macri já começa a dar sinais de que não vai conseguir cumprir com a negociação e está nos Estados Unidos para tentar renegociar o acordo com o FMI.
Abandonado pelo mercado, e com seus jogadores saindo um a um, o ex-presidente do Boca Juniors está ficando sozinho em campo. A pressão aumenta nas ruas mais que final de Libertadores da América no La Bombonera e o completo caos é questão de tempo. Mas sobre uma coisa Macri tinha razão, ele uniu o país.
Vermelho, 26 de setembro de 2018.