Chefes de família tentam superar o desemprego

3 de setembro de 2018

Dos 12,9 milhões de desempregados, 22,7% têm idade entre 40 e 59 anos, aponta IBGE

Dos 12,9 milhões de desempregados no segundo trimestre deste ano, 22,7% têm idade entre 40 e 59 anos.

O grupo tem taxas de desemprego menores do que outros. Mesmo assim, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é preocupante por se tratar dos chefes de família.

Em 2013, antes mesmo de a economia entrar em recessão, Eduardo Aparecido da Silva, 53, que tem curso superior na área de telecomunicações, perdeu o emprego de supervisor. De lá para cá, viu o número de oportunidades cair e o desemprego entrar na vida de amigos, vizinhos e parentes.

Desde então, a sua rotina é mandar currículos. “Nesse tempo, fiz poucas entrevistas. Continuo mandando porque quero voltar ao mercado”, diz.

Silva afirma que o dinheiro do aluguel de uma casa que herdou e a aposentadoria da mulher pagam as contas.

“Nós fazemos tudo juntos, então sentamos todo o mês para ver o orçamento, ver onde dá para apertar, o que dá para fazer. Não é fácil, mas quando tudo é feito em parceria, ajuda”, diz.

Na lista dos diversos hábitos que mudaram, ele destaca a redução de vezes em que vão ao supermercado. Em vez de fazer compras aos poucos, a família passou a frequentar atacarejos e a fazer uma grande compra no mês.

Para Silva, a pior parte do desemprego é não saber se terá novamente oportunidade. Ele diz acreditar que sua idade e a condição econômica do país dificultam a recolocação.

“O tempo passa e cada vez mais eu tenho amigos, vizinhos ou parentes que perderam o emprego. É uma situação muito complicada, mas a gente tenta não desanimar”, diz.

Sobrinho de Silva, Fábio Chrysostomo, 41, está há um ano sem carteira assinada –a empresa de peças automotivas em que trabalhava fechou.

Motorista de profissão, ele vendeu seu carro e financiou um modelo mais novo para poder prestar serviço como Uber e manter as contas em dia.

“Tenho uns R$ 700 do carro por mês, mais R$ 500 de convênio pro meu filho, os outros gastos com transporte escolar e também as contas da casa. Não é fácil, mas a gente tem que se virar porque tem a família toda em jogo”, afirma.

Nesse período, Chrysostomo diz que enviou mais de 60 currículos e teve pouco retorno. “Está tudo parado e eu não tenho escolha, a não ser continuar dirigindo”, afirma ele.

Apesar de estar conseguindo pagar as contas, o motorista afirma que não vai desistir da carteira assinada por causa da estabilidade. “No emprego fixo há horário, 13º [salário]. Agora, estou me virando. Estabeleço as metas por dia e tento cumpri-las. Mas quero voltar a trabalhar com carteira.”

Para o educador financeiro Edelcio Fonseca, o melhor a se fazer após a demissão é mapear todos os gastos da família.

“A partir disso, é possível calcular por quanto tempo a família consegue viver sem a renda principal.” Fonseca diz também que tirar férias para descansar depois de ser demitido não é o ideal. “Uma semana é bastante. Depois, já é preciso procurar emprego.”

 

Folha de S.Paulo, 03 de setembro de 2018.