Construção civil é uma das atividades de maior pegada ecológica. Por isso mesmo, pretende liderar a mudança para a economia verde. O setor gera um terço da emissão mundial de gases de efeito estufa. Isso porque usa produtos e insumos responsáveis por emissões altas, como cimento e aço.
“O setor é crítico porque é a convergência de muitas atividades com impactos ambientais significativos”, explica Arab Hoballah, chefe de Consumo e Produção Sustentáveis do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
No Brasil, a siderurgia responde por 35% das emissões de carbono da indústria, enquanto o cimento responde por 19%. Some-se a isso o consumo de diesel no transporte dos materiais até os canteiros de obras.
“A construção tem potencial para liderar as transformações em direção à maior eficiência e à economia verde, capaz de criar muitos empregos”, crê Hoballah.
No Brasil, então, onde empreendimentos sustentáveis representam 1% do mercado, o potencial é enorme -nos Estados Unidos, esse nicho representa 9% do total.
CICLO DE VIDA
O Conselho Brasileiro de Construção Sustentável levará à Rio+20 a proposta de criação de um painel internacional com empresas, governos, academia e ONGs para definir uma ferramenta capaz de agilizar a avaliação do ciclo de vida de produtos e serviços usados no setor.
A ferramenta (Plataforma Global de Avaliação do Ciclo de Vida Simplificado para Construção Sustentável) pretende universalizar dados sobre impactos ambientais de itens usados em obras.
“Isso talvez permita uma competição na cadeia da construção não só baseada em preço, mas em desempenho ambiental em escala planetária”, afirma o engenheiro Vanderley John, professor da Escola Politécnica da USP.
“Precisamos mover indústria e consumidores para a economia verde. E informação é o caminho”, diz. Hoje, a quantidade de informações sobre esse impacto é limitada, e o acesso é caro e difícil.
“Nos países em desenvolvimento, os dados sobre produtos locais são inexistentes. A carência elimina a chance de escolher fornecedores com base em critérios ambientais. A ausência de informação impede que o mercado promova a sustentabilidade”, avalia Marcelo Takaoka, presidente do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável.
A entidade propõe um sistema público, aberto e gratuito, que gerencie um conjunto mínimo de dados para ajudar nas decisões de compra.
Segundo Takaoka, isso é importante porque a previsão é que áreas urbanas consumam 80% da energia produzida no mundo em 2030.
O processo de construir, em si, é o que menos gera emissões. Grande parte ocorre nas fases de extração de matéria-prima, fabricação de produtos e transporte.
E, depois, na fase de uso, quando os moradores passam a consumir água e energia e a gerar lixo. “O impacto é como as pessoas viverão nesses edifícios durante sua vida útil, de cerca 80 anos.”
Quase tudo o que é feito para melhorar o desempenho ambiental dos edifícios também traz vantagens econômicas para construtoras, empreendedores e moradores -que vão notar no bolso a redução de despesas de condomínio.
Takaoka diz que o dinheiro que será poupado pode financiar a sustentabilidade, tanto em edifícios novos como em usados. Ele dá o exemplo das empresas que fazem retrofit (reforma com modernização) e cobram honorários com base na economia gerada por redução de consumo. “É uma oportunidade para bancos e incorporadoras.”
SOLUÇÕES COMBINADAS
Não dá mais para construir sem considerar a eficiência energética do imóvel, a redução do consumo de água, o uso de materiais reciclados e a minimização dos impactos ambientais durante a obra.
Mas sustentabilidade passa também pela avaliação das vantagens de reabilitar imóveis que já estão aí, lembra Joana Carla Soares Gonçalves, professora do Laboratório de Conforto Ambiental da FAU-USP e autora do capítulo de construção civil e arquitetura do relatório preparatório para a Rio+20 do Pnuma.
“Em países emergentes como o Brasil, a construção de novos edifícios tem peso significativo, por causa da alta demanda habitacional e de edifícios comerciais que acompanham o crescimento da economia”, explica.
No entanto, segundo ela, é preciso considerar o que já foi feito nos últimos 50 anos.
“Já dispomos de um estoque significativo que precisa ser recuperado e reutilizado, a fim de diminuir o impacto ambiental. Esse ponto é bem reforçado no relatório.”
Tudo pode ajudar no caminho em direção a um negócio mais limpo, mas uma análise que integre as soluções e leve em consideração o desempenho de cada produto e insumo usado na edificação ajudará mais ainda, segundo os empresários.
Para ter uma ideia, o orçamento para a construção de um edifício habitacional típico chega a 2.500 itens, empregados em grandes quantidades. A escolha de produtos e processos mais “limpos” faz uma grande diferença.
Embora ainda no início da mudança, as empresas do setor começam a identificar, medir, reduzir ou compensar suas emissões de carbono, muito em razão de exigências cada vez maiores das legislações de proteção no Brasil e no exterior.
E de olho, também, no interesse dos compradores de imóveis por opções verdes: pesquisa feita pelo Ibope e pela Confederação Nacional da Indústria em maio revelou que o percentual de pessoas preocupadas com o ambiente aumentou de 80%, em 2010, para 94%, em 2011.
4º LUGAR
é a posição ocupada pelo Brasil no ranking mundial de empreendimentos registrados para certificação ambiental, abaixo dos EUA, dos Emirados Árabes e da China.
PREVISÃO
Em um cenário de crescimento elevado, a pegada climática do setor de construção civil quase dobrará para 15,6 toneladas de CO2 até 2030, segundo a estimativa do IPCC (o painel de cientistas da Organização das Nações Unidas sobre o clima).
Fonte: Folha de S.Paulo
5 de junho de 2012