Enquanto a situação atual das companhias registra melhora lenta, a expectativa do empresariado despenca frente às revisões econômicas do primeiro semestre e a incerteza política das eleições
O possível impacto das incertezas políticas e econômicas na tomada de decisão de investimentos de longo prazo derrubou as projeções do empresariado da construção em junho. Segundo o Índice de Confiança da Construção, o componente que mede as expectativas futuras caiu 6,5 pontos, na comparação com maio. Esta é a maior queda registrada na série histórica.
Em junho, o Índice de Confiança da Construção (ICST), da Fundação Getulio Vargas (FGV), ficou em 79,3 pontos, o menor nível desde novembro de 2017. Se por um lado o Índice da Situação Atual (ISA) ficou estável, em 70,8 pontos, alta de 0,3 ponto, por outro, o Índice de Expectativas (IE) despencou, atingindo 88,3 pontos, menor nível desde agosto de 2017.
A pesquisa, que este mês apresentou um item a mais, mostrou que um dos principais fatores que está influenciando as expectativas dos empresário é o ritmo lento da economia, citada por 64,4% dos entrevistados. Em seguida as incertezas políticas, que foram lembradas por 56,4% dos ouvidos, e falta de confiança no governo (45,5%). (Veja mais no gráfico)
“São fatores que afetam toda a economia, mas para um setor que depende do médio e longo prazo, acaba afetando mais”, diz a coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE, Ana Maria Castelo.
Para ela, diferente de outros bens de menor valor agregado, o imóvel exige um ambiente de longo prazo muito mais previsível para a realização de investimentos, já que os contratos de financiamento chegam a 20 ou 30 anos. “Dificilmente um investidor ou as famílias comprarão imóvel pensando no curto prazo. Fatores políticos são fundamentais”, expõe.
Mesmo assim, ela destaca que é prematuro definir se a piora nas expectativas é permanente e tende a retrair novamente nos próximos meses ou se apenas demonstra uma acomodação de um indicador que estava muito positivo. “Ainda é cedo para dizer se as empresas vão segurar os lançamentos ou não”, diz.
O ponto positivo, de acordo com ela, é que a queda das expectativas não têm nada a ver com o desempenho da situação corrente. “De 2016 em diante vimos um ritmo forte de recuperação do IE, enquanto o ISA demorou para reagir, aumentando a distância entre eles. Agora, o ISA tem mantido uma melhora lenta e as expectativas despencaram”, diz.
Em resumo, a especialista acredita que há uma melhora do setor, e que o pior passou. Contudo, o que foi colocado em xeque é a sustentabilidade dessa melhora.
Número em áreas
Em junho, quem puxou o crescimento do ISA foi o segmento de edificações residenciais, que teve aumento de 3,2 pontos e atingiu 75,9 pontos.
No caso das obras de infraestrutura, o comportamento foi de estabilidade, com variação de 0,5 ponto, ficando em 71,6 pontos. “Estávamos observando algumas coisas nos âmbitos de prefeitura e estado, como obras viárias. Agora, nos últimos dois meses, o cenário virou”, conta.
Do lado oposto, os serviços especializados para construção tiveram queda de 2 pontos em junho, na comparação com maio, passando para o patamar de 64,1 pontos.
No caso do indicador de expectativas, todos os segmentos tiveram queda. A maior ficou em obras de infraestrutura com retração de 7,2 pontos, seguido de edificações residenciais (-6,7 pontos) e serviços especializados para construção (-3 pontos).