‘Despetização’ de Onyx paralisa Comissão de Ética da Presidência

9 de janeiro de 2019

Presidente do órgão pede servidores de volta aos postos sob pena de ‘inviabilização’ de seu funcionamento

 

exoneração em massa de servidores anunciada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), com o objetivo de “despetizar” o governo, paralisou o trabalho da Comissão de Ética Pública (CEP), vinculada à Presidência da República.

A demissão, que foi publicada no Diário Oficial como um dos primeiros atos do novo governo, esvaziou o órgão: 16 funcionários foram desligados de uma equipe formada por 17 pessoas.

A comissão, criada em 1999, serve para dar consulta e analisar o comportamento de agentes públicos.

O colegiado pode propor mudanças de conduta e também sugerir penalidades para quem não segue regras do ponto de vista ético, incluindo ministros.

Em um ofício enviado na última sexta (4) ao secretário-executivo da Casa Civil, Abraham ?Weintraub, o presidente da CEP, Luiz Navarro, reclamou da medida.

“O retorno de todos os servidores em exercício na Comissão de Ética Pública aos seus órgãos de origem inviabiliza o funcionamento da Comissão”, escreveu no texto, obtido pela Folha —os funcionários da comissão são cedidos por outros órgãos da administração.

Navarro pediu a nomeação de todos os funcionários de volta aos seus postos.

A paralisação do órgão ocorre em um dos momentos mais delicados, o início de um novo governo, quando a comissão precisa analisar uma série de documentos.

Na transição entre mandatos, a equipe tem a responsabilidade de avaliar, por exemplo, potenciais conflitos de interesses envolvendo membros da administração, especialmente ministros, mas também comissionados, dirigentes de estatais, autarquias e fundações.

Ao mesmo tempo, o grupo tem de examinar também a necessidade de impor quarentena àqueles funcionários públicos que saíram e estão indo para a iniciativa privada.

“Neste momento, encontramo-nos em elevado grau de sobrecarga de trabalho”, escreveu Navarro ao secretário-executivo da Casa Civil. 

Uma reunião foi marcada para esta terça (8) para tratar do assunto.

Desde a demissão em massa até agora, conselheiros da Comissão já tentaram de outras formas interlocução com o governo, mas não tiveram sucesso.

Internamente, conselheiros defendem que não há motivo para desligamento dos funcionários, já que não haveria questões ideológicas envolvidas, e que a atitude de Onyx representa uma afronta à autonomia do órgão, o que seria motivo até para abertura de um procedimento de análise de sua conduta.

A CEP é formada por sete conselheiros não remunerados, todos eles escolhidos pelo presidente da República em exercício, para mandatos de três anos, permitida apenas uma recondução.

Autor do esvaziamento na Esplanada, Onyx é investigado pela Procuradoria-Geral da República, que é a instância máxima do Ministério Público, por dois supostos episódios de recebimento de caixa dois em campanhas eleitorais.

Antes ligada administrativamente à Casa Civil, neste governo a Comissão de Ética passa à Secretaria-Geral da Presidência, sob o comando de Gustavo Bebianno, um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro. 

Onyx Lorenzoni não respondeu ao questionamento enviado pela reportagem. O presidente da Comissão disse à Folha que não se manifestaria.

Entre outros episódios, a CEP recomendou em 2011 a saída do então ministro do Trabalho Carlos Lupi (PDT) durante o governo de Dilma Rousseff (PT). O posicionamento do órgão foi a gota d’água em meio a uma série de denúncias de irregularidades do político na pasta.

Ele foi o sétimo ministro a perder o cargo no primeiro ano da petista como presidente.

Em caso da constatação de infração, a comissão pode emitir advertência, quando se tratar de autoridade no exercício do cargo, censura ética, para autoridades que já tiverem deixado o cargo, e “encaminhamento de sugestão de exoneração à autoridade hierarquicamente superior, quando se tratar de infração grave ou de reincidência”.

Como mostrou a Folha nesta segunda-feira (7), o anúncio de Onyx Lorenzoni trouxe impactos negativos à gestão de Jair Bolsonaro.

A medida desarticulou momentaneamente o corpo técnico do Palácio do Planalto e prejudicou a análise sobre se a decisão tomada pelo presidente, de prorrogar até 2023 benefícios fiscais para as regiões Norte e Nordeste, teria impacto no Orçamento de 2019.

No primeiro dia de trabalho como ministro, Onyx anunciou que o governo federal demitiria cerca de 320 funcionários em cargos de confiança vinculados à Casa Civil.

O ministro afirmou na ocasião que o objetivo era submetê-los a uma espécie de avaliação para definir se serão recontratados para os postos.

 

Folha de S.Paulo, 09 de janeiro de 2019