Ao menos a Câmara parece refletir o cenário de empoderamento crescente de mulheres no Brasil e no mundo, segundo o mapa feminino do novo Congresso que saiu das urnas no último domingo (7). A representação feminina na Casa para a próxima legislatura (2019-2023) passará de 51 para 77 deputadas eleitas, um acréscimo de 51% (leia abaixo a lista com as novas deputadas e senadoras).
Já o Senado está na contramão da Casa vizinha. Sete mulheres eleitas em 2018 se somarão a outras cinco com mandato a cumprir até 2023 – Fátima Bezerra (PT-RN), Kátia Abreu (MDB-TO), Maria do Carmo Alves (DEM-SE), Rose de Freitas (Podemos-ES) e Simone Tebet (MDB-MS). A questão é que, das 13 mulheres atualmente no Senado, até dez podem deixar a Casa a partir do próximo ano – Regina Souza (PT), por exemplo, foi eleita vice-governadora do Piauí, enquanto a petista Fátima tem chances de se eleger governadora do Rio Grande do Norte em segundo turno.
Na soma final, com as sete eleitas e as três restantes, a Casa passaria de 13 para dez senadoras.
Três delas tentaram se reeleger e não conseguiram: Ângela Portela (RR), Lúcia Vânia (PSB) e Vanessa Grazziotin (PCdoB). Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR) se disse injustiçada por denúncias de corrupção para trocar o Senado pela Câmara. Foi eleita com 212.513 votos, terceira maior votação entre os deputados federais eleitos pelo Paraná.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), duas das cinco regiões geográficas brasileiras ficarão sem qualquer senadora a partir da próxima legislatura: Norte e Sul, que reúnem nove estados.
MDB mantém maior bancada no Senado, que fica mais fragmentado e menos feminino
Nas demais regiões, o mapa ficou assim: dos nove estados da Região Nordeste, apenas Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte elegeram senadoras; na Região Centro-Oeste, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul terão representantes femininas no Senado (apenas Goiás não elegeu senadoras); na Região Sudeste, apenas São Paulo elegeu uma mulher, a tucana Mara Gabrilli.
Na Câmara
Segundo o resultado recolhido das urnas no último domingo (7), Amazonas, Maranhão e Sergipe só elegeram homens para a Câmara. Outros estados contam com apenas uma mulher na bancada, caso de Alagoas, Ceará, Mato Grosso, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A situação é a mesma em Pernambuco. Única mulher eleita deputada federal pelo estado, Marília Arraes (PT) se juntará a 24 colegas homens. Bisneta de Miguel Arraes, uma das maiores lideranças da história do estado, ela foi a vice-campeã de votos entre os pernambucanos. O primeiro lugar ficou com João Campos (PSB), primo de Marília e filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente de avião durante a campanha presidencial de 2014.
Não haverá deputada federal do Maranhão a partir de 2019. Também chama a atenção o caso do Amazonas, que teve 48 candidaturas femininas inscritas para a Câmara e nenhuma eleita. O estado, que não reelegeu a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) ou qualquer outra mulher para o posto, ficará sem representante feminina no Congresso a partir de 2019.
Primeira índia
Segundo Erika Kokay (PT-DF), que conseguiu se reeleger, o aumento da bancada feminina na Câmara não é suficiente para reforçar a defesa das mulheres no parlamento. “Não basta ser mulher, tem que fazer política como mulher e ter compromisso com uma sociedade de igualdade de direitos. Equidade de gênero é uma pauta estruturante, não é cereja do bolo”, disse ao Congresso em Foco.
“Há mais de 20 anos há uma cota para que cada partido tenha uma reserva de 30 mulheres para disputar eleição. No entanto, nós não conseguimos fazê-la crescer. Neste ano, graças à ação firme da bancada feminina junto ao Judiciário nós obtivemos 30% do tempo de propaganda na televisão, no rádio e recursos mínimos para dar voz às mulheres do Brasil”, discursou Soraya Santos (PR-RJ) em plenário nesta terça-feira (9).
Uma das coordenadoras da bancada feminina na Câmara, Soraya festejou mais um passo dado pelas mulheres nas eleições deste ano. “Pela primeira vez vai haver uma mulher índia nesta Casa, que trará os problemas da sua comunidade”, acrescentou, referindo-se à primeira advogada indígena do país, Joênia Wapichana (Rede), eleita com 8.491 votos em Roraima.
Veja a lista de mulheres eleitas em 2018:
SENADO
Foram apenas sete as mulheres eleitas para a chamada Alta Casa, em um universo de 358 pedidos de candidatura (considerando-se homens e mulheres). Veja quem são as senadoras eleitas para o período 2019-2027.
REGIÃO CENTRO-OESTE
Distrito Federal
Leila do Vôlei (PSB)
Goiás
Nenhuma senadora eleita
Mato Grosso
Juíza Selma Arruda (PSL)
Mato Grosso do Sul
Soraya Thronicke (PSL)
REGIÃO NORTE
Nenhuma senadora eleita nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins
REGIÃO NORDESTE
Alagoas
Nenhuma eleita
Bahia
Nenhuma eleita
Ceará
Nenhuma eleita
Maranhão
Eliziane Gama (PPS)
Paraíba
Daniella Ribeiro (PP)
Pernambuco
Nenhuma eleita
Piauí
Nenhuma eleita
Rio Grande do Norte
Dra. Zenaide Maia (PHS)
Sergipe
Nenhuma eleita
REGIÃO SUDESTE
São Paulo
Mara Gabrilli (PSDB)
REGIÃO SUL
Nenhuma senadora eleita nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
CÂMARA
Apenas 77 mulheres foram eleitas para os próximos oito anos, em meio a 8.588 candidaturas registradas (homens e mulheres).
REGIÃO CENTRO-OESTE
Distrito Federal
Bia Kicis (PRP)
Celina Leão (PP)
Erika Kokay (PT)
Flávia Arruda (PR)
Paula Belmonte (PPS)
Goiás
Magda Mofatto (PR)
Mato Grosso
Professora Rosa Neide (PT)
Mato Grosso do Sul
Rose Modesto (PSDB)
Tereza Cristina (DEM)
REGIÃO NORDESTE
Alagoas
Tereza Nelma (PSDB)
Bahia
Alice Portugal (PCdoB)
Lídice da Mata (PSB)
Prof. Dayane Pimentel (PSL)
Ceará
Luizianne (PT)
Maranhão
Nenhuma deputada federal eleita
Paraíba
Edina Henrique (PSDB)
Pernambuco
Marília Arraes (PT)
Piauí
Drª Marina (PTC)
Iracema Portella (PP)
Margarete Coelho (PP)
Rejane Dias (PT)
Rio Grande do Norte
Natália Bonavides (PT)
Sergipe
Nenhuma deputada eleita
REGIÃO NORTE
Acre
Drª Vanda Milani (Solidariedade)
Jéssica Sales (MDB)
Mara Rocha (PSDB)
Perpétua Almeida (PCdoB)
Amazonas
Nenhuma deputada eleita entre 153 candidaturas
Amapá
Aline Gurgel (PRB)
Leda Sadala (Avante)
Professora Marcivânia (PCdoB)
Pará
Elcione Barbalho (MDB)
Rondônia
Jaqueline Cassol (PP)
Mariana Carvalho (PSDB)
Silvia Cristina (PDT)
Roraima
Joênia Wapixana (Rede)
Shéridan (PSDB)
Tocantins
Dulce Miranda (MDB)
Professora Dorinha (DEM)
REGIÃO SUDESTE
Espírito Santo
Drª Soraya Manato (PSL)
Norma Auyb (DEM)
Lauriete (PR)
Minas Gerais
Alê Silva (PSL)
Áurea Carolina (Psol)
Greyce Elias (Avante)
Margarida Salomão (PT)
Rio de Janeiro
Benedita da Silva (PT)
Chris Tonietto (PSL)
Clarissa Garotinho (Pros)
Daniela do Waguinho (MDB)
Flordelis (PSD)
Jandira Feghali (PCdoB)
Major Fabiana (PSL)
Rosangela Gomes (PRB)
Soraya Santos (PR)
Taliria Petrone (Psol)
São Paulo (10 entre 1.686)
Adriana Ventura (Novo)
Bruna Furlan (PSDB)
Joice Hasselmann (PSL)
Luiza Erundina (Psol)
Maria Rosas (PRB)
Policial Katia Sastre (PR)
Renata Abreu (Podemos)
Rosana Valle (PSB)
Sâmia Bomfim (Psol)
Tabata Amaral (PDT)
REGIÃO SUL
Paraná
Aline Sleutjes (PSL)
Christiane Yared (PR)
Gleisi Hoffmann (PT)
Leandre Dal Ponte (PV)
Luisa Canziani (PTB)
Rio Grande do Sul
Fernanda Melchionna (Psol)
Liziane Bayer (PSB)
Maria do Rosário (PT)
Santa Catarina
Ângela Amin (PP)
Carmen Zanotto (PPS)
Caroline de Toni (PSL)
Geovânia de Sá (PSDB)
* Colaborou Ana Luiza de Carvalho.
Congresso em Foco, 11 de outubro de 2018.