Minha Casa, Minha Vida é responsável por dois terços do mercado imobiliário
Prestes a completar dez anos, programa de habitação é predominante no setor de construção brasileiro
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Mais da metade dos imóveis lançados ou vendidos no terceiro trimestre usaram programa; se considerada atuação de pequenas construtoras, relevância bate 65%, afirma presidente da CBIC
Responsável por mais de 50% dos lançamentos ou vendas de imóveis residenciais no terceiro trimestre, o Minha Casa, Minha Vida já significa cerca de dois terços do mercado imobiliário brasileiro. Para entidades do setor, o novo governo deve encarar o programa “com carinho especial”.
“A expectativa de crescimento do mercado [imobiliário] no ano que vem está em torno de 10% a 15%, mas vai depender muito do recurso para o Minha Casa, Minha Vida”, afirmou o presidente da Comissão de Indústria Imobiliária da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Celso Petrucci.
Ontem (26), a entidade divulgou dados sobre o terceiro trimestre do setor em 23 regiões do País. No período, foram lançadas 21,4 mil unidades residenciais (alta de 30,1% em um ano); já a comercialização saltou 23,1% no mesmo intervalo, totalizando 26,1 mil unidades entre julho e setembro.
“[Neste período], o programa Minha Casa, Minha Vida representou 51% dos lançamentos e 51% das vendas”, destacou Petrucci. Já o presidente da CBIC, José Carlos Martins, observou que a relevância do programa habitacional é ainda mais expressiva do que sugerem os números.
“Hoje [o MCMV] representa em torno 65% do mercado”, afirmou o dirigente, explicando que os dados compilados pela CBIC não captam a atuação de uma parcela “pulverizada” representada pelas pequenas construtoras. “Quando junta com eles, dois terços do mercado imobiliário brasileiro são Minha Casa, Minha Vida”.
Se considerado o recorte regional dos dados divulgados pela CBIC, os números se aproximam dessa marca: durante o terceiro trimestre, 77,5% das unidades vendidas na região Norte contaram com o subsídio, frente 64,6% no Nordeste, 51,5% no Centro-Oeste, 46,4% no Sul e 45,8% na região Sudeste.
Considerando os novos imóveis, o quadro é similar: dentre as unidades lançadas, mais da metade estava inserida no programa nas regiões Sudeste (50,3%), Nordeste (62,6%), Centro-Oeste (63,7%) e Norte (76% do total). Os dados de Minha Casa, Minha Vida reportados pela CBIC englobam 19 regiões do País.
Para o trimestre final de 2018, a expectativa da CBIC é de números ainda mais expressivos no programa. “Tenho impressão que os lançamentos de MCMV virão muito fortes [no quarto trimestre]”, previu Petrucci. Uma das razões para a previsão seria a “corrida atrás do tempo perdido” ocasionada após a paralisação nas contratações em certas regiões durante outubro e novembro.
Conforme explicação de José Carlos Martins, tal interrupção ocorreu em momento onde o Ministério das Cidades tinha dúvidas “se haveria recursos para honrar o programa no ano que vem”. A situação foi resolvida após aprovação, pelo Conselho Curador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), da liberação de R$ 500 milhões em recursos para o programa governamental.
O episódio, contudo, ampliou a preocupação do setor com as fontes de financiamento necessárias. Ontem (26), o presidente da CBIC fez apelo para que a nova gestão federal olhe para o MCMV “com um carinho especial”, enquanto Celso Petrucci citou a necessidade de “adequar o programa à nova realidade”. Em 2018, o orçamento total para o Minha Casa, Minha Vida somou R$ 57,4 bilhões.
Estoque
Se os imóveis MCMV já significam mais da metade dos lançamentos e das vendas no terceiro trimestre, do ponto de vista dos estoques (ou oferta final disponível), a modalidade representou apenas 37,7% ao fim de setembro.
Em termos gerais, o estoque das praças acompanhadas pela CBIC caiu 13,8% em um ano e 4,6% na comparação com o segundo trimestre de 2018, totalizando 118 mil unidades ao fim de setembro.
Com a repetição do cenário de mais vendas que lançamentos, os porta-vozes da entidade da construção civil alertaram mais uma vez para a possibilidade de altas expressivas no preço do metro quadrado residencial – que teria fechado o terceiro trimestre em R$ 6.123. “[A subida de preços] vai acontecer e provavelmente já está ocorrendo em alguns mercados”, afirmou Petrucci.