Economia está muito abaixo do nível de 2013 e ainda dá sinais de frieza deprimida
O salário médio no Brasil não aumentou no ano passado. Para ser mais preciso, o rendimento médio do trabalho cresceu 0,2% até novembro, em termos reais (descontada a inflação). Em português claro, aumentou R$ 3 em um ano. Não paga ônibus ou cafezinho.
Pouca gente prestou atenção ao desastre, divulgado no dia 28 de dezembro. Desde a recessão, o salário respirou apenas em 2017. A precarização do trabalho continua a aumentar. O número de empregos com CLT ainda é 3,5 milhões menor que em 2014.
O resultado não é de admirar, pois a economia ainda nem saiu do buraco em que afundou de 2014 a 2016; há ociosidade de capital e trabalho por quase toda parte. Mas a estagnação dá outra vez o que pensar sobre essa depressão. Que recuperação será possível? As taxas de juros estão altas? Além de reformas, há algo a fazer?
O salário médio não é nem 1% maior do que era em 2014 (R$ 17 maior). A produção da economia (PIB) no ano passado ainda era 4,3% menor que em 2013 (por cabeça, pelo PIB per capita, a baixa ainda era de 8%).
A taxa de desemprego média de 2018 deve ter ficado em 12,3%, ante os 6,8% de 2014, decerto mínima exagerada, inflacionária. Mas o desemprego baixou apenas meio ponto percentual em relação a 2017 e ainda é maior que o de 2016.
A taxa real de juros “básica” em 2018 foi maior apenas que a de 2013, quando a baixa era “fake”, artificial, pois a inflação subia. Ainda assim, o PIB mal dá sinal de vida.
A economia afundou além do que se imaginava e se recuperou bem menos do que se previa. Entre outras muitas areias na engrenagem, tais como superendividamento privado e intervenções cretinas do governo na economia até 2014, é notável o problema do tumulto político. Entre 2015 e 2016, não se tinha certeza de qual governo haveria, assim como no 2018 da eleição, lembrando que o vexame corrupto prejudicou 2017.
Mais importante, o governo está quebrado e não há solução concreta para o problema, por ora. As taxas de juros de longo prazo, decisivas para o investimento, continuaram altas —voltaram ao nível de meados de 2013 apenas agora, em janeiro.
Obviamente, também não é possível estimular a economia via gasto público. O consumo do governo deve ter ficado na mesma ou caído no ano passado.
Pelo manual, pois, não é difícil explicar o estrago, apesar do tamanho surpreendente e ainda mal compreendido da crise. Vai passar?
Suponha-se que não tenha havido destruição extra, duradoura e significativa da capacidade produtiva do país nestes cinco anos de miséria. Suponha-se que venha pelo menos uma reforma da Previdência nível Michel Temer.
Então, a previsão é de crescimento de 2,5% neste 2019, talvez menos, muito pouco ainda. Muita gente dirá que investimentos voltarão apenas quando se puder ver para crer na reforma previdenciária, lá por meados do ano, no mínimo. Outros dirão que uma reforma só não basta.
Pode ser, para o médio ou longo prazo. Mas por que está tão fora de moda a pergunta sobre a adequação do nível da taxa básica de juros, ainda mais em uma economia com tanta sobra de capital e trabalho e inflação abaixo das metas? Por que baixou o tom da conversa sobre investimentos em infraestrutura, que não saem do papel?
É difícil discordar da ideia de que, sem contenção de déficit e dívida públicos, que crescem sem limite em direção ao desastre, não haverá muito o que fazer. É o necessário, mas pode não ser o suficiente.
Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).
Folha de São Paulo, 14 de janeiro de 2019