Para metalúrgico, economia vai determinar ofensiva empresarial sobre direitos

24 de janeiro de 2019

Trabalhadores começaram o ano debatendo com a Ford e com a GM para definição de investimentos e aumento de produção.

 

A conversa entre representantes de trabalhadores, prefeitos e a General Motors ainda prosseguia, na terça-feira (22), mas para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, já ficava clara a intenção da GM, que não tem fábrica na base da entidade: “O que ela busca é a obtenção de vantagens, via desoneração, mas também na legislação”. Posteriormente, sindicalistas relataram que a empresa apresentou condições para realizar investimentos no país,viabilizando sua permanência. 

O desempenho da economia determinará o grau de insistência empresarial em aplicar a “reforma” trabalhista, avalia Wagnão. Durante a campanha salarial do ano passado, algumas empresas de porte menor tentaram “forçar essa negociação”, no sentido de reduzir direitos. “Se houver um crescimento da economia, a vontade deles diminui. Se ficar estagnada, aumenta.”

O dirigente iniciou o ano com preocupação em relação à Ford, que não deu sequência às discussões sobre investimentos na fábrica de São Bernardo e acendeu um sinal de alerta entre os trabalhadores. “As negociações em relação à perspectiva de futuro foram o acordo que fizemos em 2017. A síntese desse acordo foi dar a tranquilidade necessária para uma discussão que a gente sabia que seria difícil”, recorda, referindo-se a acerto aprovado em março de 2017, que previa debate sobre mais recursos e produtos na unidade do ABC, que de automóveis fabrica apenas o New Fiesta, além de caminhões.

“É óbvio que a situação da Ford (mundialmente) não está bem. E esse acordo com a Volks a gente ainda precisa compreender melhor”, diz Wagnão. “Acho que eles estão aguardando uma decisão que é estratégica da direção.”

Em meados do ano passado, a norte-americana Ford e a alemã Volkswagen anunciaram uma “aliança estratégica” mundial, que pode envolver projetos de veículos comerciais. Para Wagnão, é uma situação diferente daquela que, no Brasil, resultou na Autolatina, extinta em 1996, após quase 10 anos. Mas, por enquanto, tudo é hipótese, lembra, e não é possível saber até que ponto chegará essa aliança, nem o impacto em futuras negociações.

A preocupação imediata é com a Ford, cujo “ritmo de mesa de negociação” tornou-se vagaroso desde o ano passado. “Eles apontavam para uma saída. Agora, a gente está percebendo um caminho contrário.” Os metalúrgicos da empresa em São Bernardo aprovaram um calendário de mobilização interna na fábrica, até a reunião prevista para 18 de fevereiro com o presidente da montadora na América do Sul, Lyle Watters.

“Esta (São Bernardo) provavelmente é a única montadora do mundo onde os trabalhadores da montagem trabalham em duas fábricas. Não existe em nenhum outro lugar uma versatilidade tão grande como a que temos aqui”, diz o coordenador do Comitê Sindical da Ford, José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba, ao lembrar que os metalúrgicos trabalham tanto na produção de veículos (New Fiesta) como na de caminhões. “Temos contribuído de maneira muito ampla para que a fábrica se viabilize”, afirma. A unidade tem atualmente 2.800 empregados.

A indústria automobilística nacional teve em 2018 um ano de recuperação, com crescimento de 6,7% na produção (2,88 milhões de veículos) e 14,6% nas vendas (2,56 milhões). O nível de emprego aumentou menos, 1,7%, fechando com 130.451 funcionários, 1.726 a mais do que no final de 2017, entre o segmento de autoveículos (111.043) e de máquinas agrícolas (19.408). O presidente do sindicato acredita que essa tendência se manterá.

“As montadoras têm afirmado que este ano será de maior produção. Ninguém ousa dizer quanto. Vocês têm linhas de projetos sendo construídas.” Na base do sindicato do ABC, pouco acima dos 70 mil trabalhadores, 2018 ainda teve retração, mas “menos significativa” do que no ano anterior.

 

Fechamento 

Quem enfrenta dificuldades neste começo de 2019 são os funcionários da Dura Automotive, fábrica de autopeças no município de Rio Grande da Serra. A empresa, com 300 trabalhadores, anunciou o fechamento da unidade no próximo mês de maio. O Sindicato dos Metalúrgicos tenta negociar alternativas para evitar que a fábrica encerre atividades.

Em carta, a empresa anunciou suspensão do aviso até o próximo domingo (27), enquanto as negociações prosseguem, em busca de um plano de reestruturação. Com isso, os metalúrgicos interromperam a greve. Criada em 2000 e com matriz nos Estados Unidos, a Dura tem as principais montadoras como clientes.

 

RBA, 24 de janeiro de 2019