Enquanto não houver uma revisão da forma de formalização do mercado de trabalho, o problema continua. Essa reforma impede uma sustentação do emprego.
Por Marcio Pochmann*
Há uma mudança estrutural no mundo do trabalho basicamente puxada por dois fatores.
O primeiro é o processo de desindustrialização precoce pelo qual o Brasil vem passando, um movimento estrutural que começa nos anos 90 e que seguiu evoluindo.
O segundo é a mudança da organização da produção, com enxugamento de vagas internas, a terceirização e a externalização do processo produtivo. Sobre esse quadro, em 2015 vem uma recessão muito profunda, concentrada no setor secundário, industrial, e sobre o setor terciário, de serviços. Os dois setores que mais empregam.
O setor primário, que praticamente não sofreu com a recessão, é um setor em que o aumento da produção acontece sem aumento de emprego. Em 2017, o PIB cresceu 1% graças ao setor primário. Em 2017, a liberação de recursos como o FGTS ajudou de alguma maneira, mas isso não se manteve. A economia está sem frente de expansão.
Na verdade, não podemos dizer exatamente que saímos da recessão.
Segundo o IBGE, temos 27% da força de trabalho procurando trabalho. É a mais grave crise do trabalho no Brasil, pelo menos pós-1930. A cada três brasileiros, um está procurando trabalho. Algo dramático.
Por outro lado, sobre os dois terços que estão trabalhando há uma mudança na forma de contratação.
A reforma trabalhista institui um contrato que não garante um direito a renda mensal, o que estudiosos chamam de precarização do mercado de trabalho, aprofunda a instabilidade. Isso tira a previsibilidade da renda. Então é uma mudança estrutural sobre a qual vem uma recessão e depois a precarização.
Enquanto não houver uma revisão da forma de formalização do mercado de trabalho, o problema continua. A reforma impede uma sustentação do emprego.
Vermelho, , 19 de julho de 2018.