Programa Verde Amarelo deve criar 271 mil empregos, e não 1,8 milhão, como governo Bolsonaro anunciou

12 de dezembro de 2019

Trabalhadores receberão cerca de um oitavo das verbas rescisórias no momento de demissão. Custo com desonerações supera salário médio.

 

Outro absurdo da medida é que os desempregados pagaram taxa sobre seguro para financiar as desonerações aos empresários – MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

 

Anunciado como a principal medida do governo Jair Bolsonaro para combater o desemprego entre os jovens, o Programa Verde Amarelo, instituído por meio da Medida Provisória (MP) 905, deve criar cerca de 271 mil postos de trabalho. A previsão inicial divulgada em novembro, quando a MP foi anunciada, era de 1,8 milhão de novas vagas para pessoas de 18 a 29 anos em busca do primeiro emprego. Os dados são da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, divulgados pelo portal UOL na terça-feira (10).

Um dia antes, a agência Reuters divulgou estudos internos da SPE informando que o custo mensal do programa para cada trabalhador supera o próprio salário médio previsto. Nessa modalidade de contratação, a remuneração dos jovens é limitada a até um salário mínimo e meio. Nesse estudo, a secretaria prevê que a média das remunerações deve ficar em R$ 1.200, enquanto o custo do governo deverá ser de R$ 1.929,37 ao mês por trabalhador.

Segundo o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, esses números ainda ignoram outros efeitos nocivos da MP. “Por exemplo, o risco de substituição de trabalhadores já contratados por jovens ganhando menos.” A eventual substituição dessa mão de obra mais experiente deverá acarretar, inclusive, em perda de produtividade das empresas, segundo o relatório da SPE. Outro efeito é que o trabalhador nessa faixa etária que está desempregado, mas já teve o primeiro emprego, será preterido, aponta Clemente.

 

Trabalhador só perde

O jovem trabalhador também terá direitos reduzidos nessa modalidade de contratação do governo Bolsonaro. O recolhimento do FGTS, por exemplo, cai de 8% para 2% do salário. A multa rescisória, de 50% do FGTS para o trabalhador contratado pela CLT, será de 20% na Carteira Verde e Amarela. “É, portanto, uma redução muito acentuada. Menos de um oitavo daquilo que um trabalhador normalmente receberia no momento da demissão”, afirmou Clemente em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (11).

Para equilibrar as contas com as desonerações concedidas aos empresários, o governo anunciou a taxação de 7,5% no seguro-desemprego, medida considerada por Clemente como “absurda”. “Ou seja, quem vai financiar as empresas que não vão contribuir para a Previdência, é o trabalhador desempregado.”

O diretor técnico do Dieese aponta, ainda, inconstitucionalidades da MP 905, e diz que a proposta do governo não terá efeito “incisivo” no combate ao desemprego. “O que gera emprego é o crescimento econômico, algo que não vem tendo a atenção adequada nem as políticas corretas para enfrentar esse grave problema, que deveria ser a nossa prioridade”, criticou.

 

RBA, 12 de dezembro de 2019