Seus gastos constroem riqueza para você ou para os outros?

24 de junho de 2013

José não tem o hábito de controlar as despesas da família. Ele e a mulher sabem (acham que sabem) o que podem fazer com o dinheiro que ganham e conseguem, na maioria das vezes, terminar o mês sem invadir o limite do cheque especial.
Não gastam demais, mas também não conseguem poupar para uma reserva financeira que lhes daria mais tranquilidade e conforto para enfrentar situações de emergência ou, ainda, realizar um dos sonhos que têm.
A soma do salário dos dois é uma quantia suficiente para manter um padrão de vida confortável. Porém acreditam que estão fazendo algo errado porque se deram conta de que construíram uma riqueza muito pequena apesar de ganharem bem.
Juntos, fizeram as contas de quanto ganharam nos últimos dez anos, tempo em que estão casados. Consideraram uma renda familiar média mensal de R$ 10 mil, que, multiplicada por 120 meses, chega a R$ 1,2 milhão e ficaram surpresos.
Incrível como o que parece pouco ou apenas suficiente a cada mês ganha proporções importantes no longo prazo. O que fizeram com essa pequena fortuna?
Para responder a essa pergunta, decidiram analisar o patrimônio que construíram. Um apartamento de R$ 500 mil cujo financiamento ainda acusa um saldo devedor de R$ 200 mil. Dois carros quitados que valem cerca de R$ 100 mil. Um saldo no FGTS e mais nada. Felizmente não têm dívidas além do financiamento imobiliário, mas chegaram à conclusão de que, se tivessem planejado melhor, teriam um patrimônio líquido muito maior do que o apurado, de aproximadamente R$ 400 mil, equivalente a 33% de todo o dinheiro que ganharam.
O que foi feito com os outros R$ 800 mil? Viveram muito bem, obrigado! A má notícia é que geraram mais riqueza para os outros do que para si mesmos. Gastaram cerca de R$ 80 mil por ano para desfrutar a vida. A eles incomoda o fato de não serem capazes de dizer o que fizeram com tanto dinheiro.
Não se pode controlar nem administrar o que não se mede. Assim, resolveram que farão um orçamento familiar. Querem saber exatamente quanto gastam com cada despesa. E decidiram incluir no orçamento uma reserva de 10% do que ganham para a realização de seus sonhos.
Para isso, terão de reduzir despesas de alguns itens além de mudar alguns hábitos, mas estão convictos de que, juntos, podem alcançar esse objetivo.
O orçamento permitirá priorizar as despesas, identificando o que é importante e agrega valor. Para isso, decidiram anotar –por um único mês– todas as despesas, as grandes e as pequenas. Depois as anotações irão para uma planilha, com os tipos de despesa e a parcela que cada grupo representa do total.
As anotações deixarão claras quais são as pequenas (e grandes) bobagens dos hábitos atuais. Algumas serão fáceis de eliminar. Outras exigirão esforço considerável para corrigir. Mas a motivação de ambos indica que estão no caminho certo.
A poupança mensal de 10% da receita do casal tem agora um objetivo: constituir uma reserva financeira igual a seis meses do orçamento familiar, que será feita em investimento de baixo risco e liquidez garantida, como a poupança, por exemplo.
Esse será o primeiro teste da capacidade de disciplina do casal. Se forem bem-sucedidos, outras metas virão. Já estão pensando que a próxima meta pode ser a de acelerar o pagamento das parcelas do crédito imobiliário e se livrar dessa dívida.
E, daqui a alguns anos, quando poupar se transformou em hábito e olharem novamente para o passado, poderão se orgulhar do que foram capazes de construir com trabalho, esforço e disciplina. Sem deixar de desfrutar a vida, é claro!
MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia do BMI (Brazilian Management Institute), professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros. É autora do livro “Cuide Bem do seu Dinheiro” (Editora Pearson, 2013).www.bmibrasil.com.br

Fonte: Folha de S.Paulo

Fonte: fetraconspar.org.br