Sindicalistas afirmam na CDH que deficit da Previdência é ‘manobra contábil’

26 de fevereiro de 2019
  • Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) realiza audiência pública para debater proposta do governo de reforma previdenciária.  Mesa: presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB), João Domingos; representante da Federação Nacional dos Ttrabalhadores do Judiciário Federal (Fenajufe) e CSP-Conlutas, Saulo Arcangeli; diretor de Formação Sindical e Relações Intersindicais da Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), Francelino das Chagas Valença Junior; presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS); assessor Especial da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Paulo Penteado; diretor de Assuntos Legislativos da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Paulo da Cunha Boal.  Foto: Geraldo Magela/Agência Senado17 representantes de organizações sindicais e de estudos da seguridade social se revezaram à mesa
    da CDH, em audiência presidida pelo senador Paulo Paim (4º à esq.)

    Geraldo Magela/Agência Senado

 

O deficit na Previdência Social é fruto de uma manobra contábil de técnicos do governo e não leva em conta nem a legislação nem problemas de gestão do sistema de seguridade. Este foi o ponto de vista apresentado por sindicalistas durante audiência da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta segunda-feira (25). O colegiado debateu a proposta de reforma apresentada pelo governo ao Congresso Nacional (PEC 6/2019).

O representante da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Paulo Penteado, reclamou por exemplo que, entre 2007 e 2016, o Brasil abriu mão de R$ 2,265 trilhões através de isenções previdenciárias, segundo cálculos atualizados. A este montante, segundo ele, soma-se R$ 1 trilhão fruto do estoque da dívida com o sistema.

— A proposta do governo fala em uma dívida de R$ 424 bilhões [com a Previdência]. Mas esta é só a dívida previdenciária, esqueceram-se das dívidas da contribuição social. O governo alega que a única saída para salvar as contas públicas é fazer uma reforma que retira direitos da população. Mas a própria Receita Federal diz não ter dados, por exemplo, para projetar o impacto da sonegação à legislação trabalhista. A Anfip [Associação Nacional dos Auditores da Receita] sabe, mas a Receita oficialmente não sabe. Como que um governo propõe uma reforma da Previdência sem a Receita projetar o impacto oriundo da sonegação? — questionou.

O procurador também ressaltou que as isenções fiscais já chegam a 4% do PIB, um recorde mundial. Segundo ele, o governo federal abriu mão de R$ 354 bilhões com isenções, somente em 2017.

— O governo diz que quer economizar R$ 1 trilhão em dez anos [com a reforma da Previdência], na prática suprimindo direitos. Economiza mais do que isso em três anos, se acabar com estas isenções — disse.

 

DRU

O representante da Conamp citou ainda que, somente em 2016, foram “desviados” R$ 92 bilhões da seguridade através da Desvinculação das Receitas da União (DRU). Além disso, segundo ele, a seguridade perdeu R$ 144 bilhões por meio de benefícios fiscais e R$ 190 bilhões para o que chama de “deficit gerencial”: sonegações, fraudes, inadimplências e erros.

— O Brasil abre mão de receitas bilionárias e depois diz que tem deficit. É claro, se eu não cobro e desvio o que tem, vai ter deficit. É isso que precisa ser consertado na Previdência, além de rever as legislações relativas a Refis e parar de perdoar sonegadores — reclamou.

O representante da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Paulo Boal, registrou que o governo federal perdoou, somente em 2018, R$ 65 bilhões frutos de sonegação fiscal.

 

BPC

Diversos participantes da audiência na CDH também protestaram pelo fato da reforma desconstitucionalizar temas ligados à Previdência Social e endurecer os requisitos para recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

 

Agência Senado, 26 de fevereiro de 2019