Alimentadores de linhas de produção, auxiliares administrativos e vendedores lideram ranking de ocupações que mais abriram vagas, segundo dados do Caged até novembro.
Empregos relacionados a atividades operacionais, de início de carreira e com salários médios mais baixos foram os que mais abriram novas vagas de trabalho com carteira assinada no país nos primeiros 11 meses do ano passado. Já ocupações ligadas a cargos de hierarquia intermediária, como supervisores e gerentes, foram as que mais perderam postos de trabalho formais.
Os dados são do ranking das atividades que mais criaram e que mais perderam vagas com carteira assinada de janeiro a novembro 2019, elaborado a pedido do G1 pelo Ministério da Economia, a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A lista considera o saldo de admissões e demissões em um agrupamento de 596 ocupações, entre janeiro e novembro do ano passado.
No topo do ranking de criação de empregos formais está a categoria “Alimentadores de linhas de produção”, com 114.112 novas vagas. A função reúne trabalhadores da produção de bens e serviços industriais, que abastecem linhas de produção, alimentam máquinas e organizam a área de serviço.
Na sequência, estão os “escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos (109.640 vagas) e os “vendedores e demonstradores em lojas ou mercados” (107.579). Veja quadro abaixo:
Atividades que mais criaram vagas de empregos em 2019 — Foto: Economia G1
Cargos em baixa
Na parte de baixo do ranking, a ocupação que mais perdeu vagas formais no Brasil no ano passado foi a de “supervisores de serviços administrativos”, com um corte de 23.117 postos com carteira assinada.
Em seguida, estão os cargos de “gerentes administrativos, financeiros e de riscos” (-20.086 vagas) e de “gerentes de operações comerciais e de reparação” (-16.020 vagas). Veja no quadro abaixo:
Atividades que mais perderam vagas de empregos em 2019 — Foto: Economia G1
Segundo o portal de pesquisa Salário, o trabalhador no cargo de “abastecedor de linha de produção” ganha atualmente entre R$ 1.247 e R$ 2.065 no país. Já o salário médios dos supervisores administrativos variam em média entre R$ 2.889 e R$ 4.783.
País gerou 948 mil vagas de janeiro a novembro
Do total de 596 ocupações do ranking, 343 contrataram mais do que demitiram no ano passado. Em 249, as demissões superaram as admissões, e em 4 houve empate.
No acumulado de janeiro a novembro, o país gerou 948.344 novos empregos formais – maior resultado para o período desde 2013, segundo dos dados do Caged.
O país encerrou novembro com um estoque de 39,36 milhões de empregos formais, ante 38,75 milhões 1 ano antes, mas ainda longe do patamar de 41,3 milhões alcançado em outubro de 2014, antes do inicio da crise que levou o país a dois anos de recessão e provocou a eliminação de mais de 3 milhões de postos de trabalho.
A geração de empregos com carteira assinada em 2019 foi puxada, sobretudo, pelo setor de serviços, que responderam por cerca de metade das novas vagas abertas no país. Na sequência, aparecem praticamente empatados a indústria de transformação e o comércio. Veja abaixo:
Criação de empregos por atividade — Foto: Economia G1
Após a informalidade bater recorde em 2019, a expectativa é de uma melhora no mercado de trabalho formal em 2020.
A consultoria Tendências projeta uma criação de empregos formais na ordem 1 milhão para 2020, em meio a um esperado avanço maior do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020.
Para 2020, os analistas das instituições financeiras projetam uma alta de 2,30% do PIB, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.
Recuperação lenta e mudanças no mercado de trabalho
Para Carlos Honorato, consultor econômico e professor da FIA e Saint Paul, num cenário de recuperação ainda lenta da economia é natural que as atividades mais operacionais e com salários médios menores sejam as primeiras do ranking de geração de empregos.
“A recuperação acontece a partir de posições com menor remuneração profissional, de cargos operacionais e mais ‘baratos'”, avalia o economista.
Já a redução do número de profissionais em cargos de supervisão e gerência, segundo Honorato, é reflexo de uma mudança na estrutura das empresas e também de um enxugamento dos níveis hierárquicos.
“Em algumas situações, não é necessário ter um supervisor, um coordenador e um gerente. O segundo ponto é que com automatização e gestão de indicadores, o que era feito por pessoas, passa a ser feito por sistemas e com isso o número de gestores diminui”, explica.
Segundo o economista Sérgio Vale, da MB Associados, as mudanças tecnológicas têm ceifado cargos administrativos intermediários, e essa tendência deve continuar nos próximos anos, mesmo com a perspectiva de melhora do ritmo de recuperação da economia.
“É uma mudança mais estrutural do que conjuntural. Os empregos que mais aumentaram foram mesmo os de menor nível educacional, mas também com enorme risco de perderem espaço para a evolução tecnológica. Trabalhos manuais, como carga e descarga, embalagens e almoxarifado, tendem a diminuírem bastante nos próximos anos. Acabam ainda aumentando porque a evolução tecnológica no Brasil também tem muito a avançar e, com uma recuperação incipiente como a nossa, empregos de salários mais baixos tendem a recuperar antes dos outros”, afirma.